São Paulo, domingo, 23 de julho de 1995
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Representação por empresa assusta

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REPORTAGEM LOCAL

Setores do governo planejam o sindicato por empresa. A CUT prefere a comissão. Já a Força Sindical escolhe o delegado.
Seja qual for a forma, porém, a representação dos trabalhadores nas empresas ainda assusta e não só empresários, mas também sindicalistas.
O medo é o mesmo: perda de poder e controle, no caso dos empresários sobre a sua empresa e dos sindicalistas, sobre sua base.
``A representação no local de trabalho torna as empresas inadiministráveis, principalmente as de fundo de quintal. Tumultua o processo de produção. Os trabalhadores ficam querendo saber dados do balanço, não dá certo...", afirma Carlos Eduardo Uchôa Fagundes, coordenador de grupo de negociação da Fiesp com os trabalhadores e diretor titular do Departamento das Micro, Pequenas e Médias Empresas.
Uchôa Fagundes considera que o Brasil ainda não atingiu o ``estágio cultural" necessário para que a representação por empresa se torne uma regra geral, mesmo com após a implantação do contrato coletivo de trabalho.
``A representação por empresa realmente tumultua", concorda Wilson Começanha, diretor de relações trabalhistas do Sindipeças (representa a indústria de autopeças). Ele admite que ``a organização por local de trabalho vai acabar acontecendo" se ``sair" o contrato coletivo.
A CUT e a Força Sindical acham que a organização por empresa é a base do contrato coletivo mas discordam do sindicato por empresa.
``Temos muitas firmas minúsculas no país e os sindicatos por empresa seriam muito fraquinhos. Seria a destruição do movimento sindical", afirma Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e diretor da Força Sindical.
Ele defende o delegado sindical, um braço do sindicato, para representar os trabalhadores nas empresas. ``A comissão de fábrica é um poder paralelo ao sindicato e perde a visão geral."
O presidente da CUT, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, considera ``saudáveis" as disputas entre comissão de fábrica e sindicato.
``A comissão de fábrica é um coletivo, há divisão de tarefas e responsabilidades. Ela organiza e dá força maior aos trabalhadores do que o delegado sindical", argumenta Vicentinho.
``A comissão de fábrica tem autonomia frente ao sindicato, pode ser composta de pessoas de diversas centrais", completa o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABCD, filiado à CUT, Heiguiberto Guiba Navarro.
Guiba e Paulinho reconhecem que a maioria dos sindicalistas ainda temem a representação por empresa. ``O delegado sindical disputa poder com o líder do sindicato", diz Paulinho. ``A comissão de fábrica fiscaliza o sindicato e tem gente que não gosta", afirma Guiba.

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