São Paulo, domingo, 23 de julho de 1995
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Há 25 anos, sentei em um Lotus e realizei meu sonho

EMERSON FITTIPALDI

Era 19 de julho de 1970.
Não sinto que 25 anos tenham se passado. Na minha memória, aquele GP da Inglaterra, em Brands Hatch, tem muito menos que 25 anos.
Foi a realização do meu sonho como piloto. Quando saí do Brasil, em 69, meu objetivo era largar um dia num GP de F-1.
Lembro que, quando o Colin Chapman -um mito do automobilismo mundial, como desenhista e construtor- me chamou, em abril de 70, para entrar na Lotus, na época uma das melhores do mundo, meu sonho começou a se realizar.
No dia da corrida, peguei o carro mais velho da equipe -o Lotus 49, um carro histórico. Devia ser a última corrida daquele carro, que Jim Clark tinha pilotado em 67 e o Graham Hill, em 68.
O sonho de estar ao lado das feras do automobilismo mundial se tornava real. Na largada, o Graham Hill estava ao meu lado. Lembro que a minha preocupação era não fazer burradas e terminar a corrida.
E terminei em oitavo. O motor estava falhando um pouco na segunda parte da prova. Para mim, poderia morrer no dia seguinte. Morreria contente.
Foi um tempo que passou muito rápido, 25 anos de muita competição, muito entusiasmo e motivação. Mesmo agora, que estou numa fase difícil com a Penske aqui em Cleveland, onde o carro não andou bem, continuo animado para o fim da temporada. Tenho certeza de que vamos nos recuperar.
Acho que o início de carreira foi a fase mais difícil por que passei. O risco de vida era muito grande na F-1. Foram momentos terríveis, com perda de companheiros nos meus primeiros três anos na categoria.
Porque, tecnicamente, quando você tem dificuldades, como tenho agora, a gente sabe que consegue superá-las com trabalho e dedicação. Tendo amor pelo esporte, você consegue. Os acidentes e as perdas é que não voltam nunca mais.
Quanto ao futuro, o ano que vem vai ser muito importante para mim. Será um novo desafio: aos 49 anos, na Penske, com um carro, espero, melhor, lutar pelo título.

Essa semana também foi marcada pelo desaparecimento do mestre de todos os mestres: Juan Manuel Fangio.
Eu me inspirei muito no Fangio e no Chico Landi, o grande ídolo brasileiro da F-1. Os dois eram amigos do meu pai e me carregaram no colo.
Sei que o grande professor não é o que ensina, mas o que inspira. E Fangio e Chico Landi foram os grandes mestres inspiradores da minha carreira. Para mim, o desaparecimento de Fangio é uma grande perda.

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