São Paulo, domingo, 23 de julho de 1995
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Equipe procura desaparecidos no Vietnã

RICARDO BONALUME NETO
DO ENVIADO ESPECIAL

O Laboratório Central de Identificação do Exército dos EUA, responsável pelo resgate, tem sede no Havaí. Sua principal área de atuação tem sido o Sudeste Asiático.
Com a melhora das relações com o Vietnã, os norte-americanos estão podendo escavar intensamente em busca de seus soldados desaparecidos.
``No Vietnã é particularmente importante porque existe quem acha que ainda existem americanos lá como prisioneiros", diz o arqueólogo William Grant, que também trabalhou na identificação dos cadáveres dos fanáticos do Ramo Davidiano de Waco, Texas, e em sítios arqueológicos indígenas e coloniais nos EUA.
``Cada lugar é bem diferente", diz o chefe da equipe, o capitão Mario Garcia. Um dos locais em que Garcia trabalhou, um ano atrás, foi a montanha onde um avião de transporte Hercules C-130 colidiu em 1968 com mais de cem pessoas a bordo. O local do acidente tinha um declive de 70 graus, o que ajudou a espalhar os restos por uma área extensa.
Outro caso complicado foi um recordista de profundidade. Um caça F-4 Phantom mergulhou de nariz no chão. Foi achado a 8,3 metros de distância da superfície.
``Assim que a gente traz os restos, pode levar até um ano para fazer a identificação", diz o capitão, que passa parte do ano viajando.
Sítios com aviões perdidos na Segunda Guerra ainda podem ser encontrados em pontos remotos do Pacífico, como em Vanuatu, onde haveria mais de 200 locais.
Grant já trabalhou em outro avião B-24, caído na Austrália, e também em um sítio arqueológico na Noruega.
Garcia já foi ao Laos em busca de restos mortais de soldados americanos. ``Nossa missão abrange o mundo todo", diz o capitão.
A equipe de resgate incluía um arqueólogo profissional. A escavação era feita como se fosse um trabalho de pesquisa científica.
A primeira coisa a fazer era identificar os limites do sítio. O terreno é dividido em quadrículas de quatro metros por quatro.
Bandeiras coloridas eram colocadas nos pontos onde eram achados restos de tripulantes ou do bombardeiro.
Uma bandeira azul significava pedaços do avião. A cor amarela indicava restos dos tripulantes ou objetos pessoais deles. A bandeira laranja mostrava pontos que indicavam partes do avião ligadas à tripulação, como a cabine, diferente dos motores, considerados parte do avião.
As bandeiras vermelhas não chegaram a ser usadas, como é o hábito, para apontar explosivos ou munição. O B-24 não carregava bombas, pois estava apenas em trânsito. O estrago todo da explosão se deveu à grande quantidade de combustível a bordo.
``A diferença do sítio arqueológico é que você não precisa escavar em camadas", diz o arqueólogo William Grant. No sítio arqueológico, as camadas indicam artefatos ligados a datas diferentes.
Na escavação do Amapá, só interessava uma data: os restos da tragédia de 11 de abril de 1944.
Para tornar o trabalho mais rápido, a equipe usou uma bomba d'água. A terra escavada era colocada em peneiras de metal e lavada com água. O que ficava depois que a terra escorria eram ossos e objetos.
Os achados preservaram, como uma ``cápsula de tempo", os objetos de uso pessoal de uma tripulação de bombardeiro da Segunda Guerra. Foram achadas moedas americanas de diversos valores, incluindo um dólar de prata.
Havia um par de óculos, uma máquina fotográfica, uma pistola Colt 45, garfos, facas, alicates, fivelas de pára-quedas, relógios, pedaços de casacos de couro.
(RBN)

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