São Paulo, domingo, 23 de julho de 1995
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Sérvios temem aviões da Otan

DO "THE INDEPENDENT"; DA "EFE"

Na semana passada, enquanto os sérvios começavam a ocupar Srebrenica, a Otan lançou um bombardeio contra os inimigos dos bósnios. Um tanque sérvio foi destruído, mas o ataque continuou. No relato a seguir, dois camponeses sérvios narram a agressão e um refugiado pede paz.

O MEDO SÉRVIO
No dia em que Srebrenica caiu em poder sérvio, Radovan Mitrovic e seu genro, Tomislav Krstic, trabalhavam em suas terras, junto ao rio Drina. Na outra margem, à distância de uma pedrada, estão as montanhas da Bósnia-Herzegóvina. E além dessas montanhas, o antigo encrave de Srebrenica.
Krstic, um sérvio nacionalista, muito religioso, lembra-se que era um dia quente e claro quando as montanhas foram atingidas pelo fogo dos "nossos garotos".
"Eram 14h40. Os aviões rodearam um pouco e em seguida atacaram", conta Krstic, apontando as montanhas diante de sua casa.
Neste ponto, a maioria dos sérvios amaldiçoa a Ocidente e reclama da imparcialidade da Otan e da incompreensível posição anti-sérvia dos líderes mundiais: seria um complô contra o Catolicismo Ortodoxo, ou um plano da Alemanha e do Irã para criar um Estado islâmico-ariano no coração da Europa.
Mas Krstic e Mitrovic, longe de serem pacifistas sérvios, pensam diferente. "A impressão que tínhamos é que não era um ataque sério. Parecia que era apenas para manter as aparências, para acalmar a opinião pública muçulmana", diz Mitrovic.
"Ora, se a Otan e a ONU quisessem salvar Srebrenica, o encrave não teria caído. É claro que é assim que o Ocidente quer apressar o fim da guerra: com a queda dos encraves", afirma Krstic.
Os representantes da Otan, da ONU e da União Européia discordam e dizem que os sérvios são militarmente mais preparados do que as forças ocidentais -posição reforçada pela propaganda sérvia.
Krstic e Mitrovic não acreditam nessa propaganda. A interpretação de Krstic é que o Ocidente está tão cansado da guerra quanto os povos da região, e por isso está deixando os encraves caírem. "Eu sinto muito por essa gente (os muçulmanos), mas é de fato o melhor jeito de fazer a guerra acabar rápido".

EXILADO MILITANTE
Sado Dizdarevié é um refugiado bósnio que vive em Madri há alguns meses. "Não haverá futuro para a Iugoslávia se todas as nacionalidades não viverem juntas", diz, lembrando o tempo anterior à desintegração do país, em 1991.
Desde que Dizdarevié colabora com a Associação Bósnia de Refugiados. Anteontem, sua programação incluía uma manifestação em frente ao Ministério de Assuntos Exteriores da Espanha.
Ele confessa estar desesperado com a situação em seu país. "Só restam duas alternativas: a intervenção militar internacional ou o fim do embargo de armas à Bósnia, para permitir sua autodefesa".
O objetivo da manifestação foi denunciar a "passividade, cúmplice da barbárie do genocídio na Bósnia" e pedir "a intervenção imediata das forças da ONU e a suspensão do embargo de armas", segundo o refugiado.
O grupo de Dizdarevié entregou três cartas a autoridades que, julgam, podem favorecer sua causa: o primeiro-ministro espanhol, Felipe González, seu chanceler, Javier Solana, e o secretário-geral da ONU, Boutros Boutros-Ghali.

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