São Paulo, domingo, 23 de julho de 1995
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Clinton acerta ao reatar com o Vietnã

JAMES BAKER

Vinte anos após as tropas comunistas terem tomado Saigon, o Vietnã continua a dividir os EUA. A decisão do presidente Bill Clinton de normalizar as relações com Hanói provocou uma nova onda de protestos e recriminações. Alguns representantes do Congresso chegaram a anunciar sua intenção de solapar a decisão do governo cortando os recursos necessários para operar a missão diplomática em Hanói.
A opinião daqueles contrários à decisão é compreensível. Afinal, o Vietnã representa uma tragédia. Não podemos nunca esquecer o sacrifício daqueles que morreram e o sofrimento dos que sobreviveram.
Entretanto, o presidente está correto ao estabelecer relações diplomáticas completas. O reconhecimento expandirá a presença americana em uma das regiões mais estratégicas e dinâmicas do mundo. Ajudará também a fechar um período doloroso da história dos EUA.
Alguns dos que se opõem ao estabelecimento de relações diplomáticas argumentam que isso, de certa forma, significa a aprovação oficial americana ao governo vietnamita. O respeito aos direitos humanos, embora tenha melhorado nos últimos 20 anos, continua pequeno. E bem depois do colapso do comunismo da URSS, o Vietnã permanece marxista. Mas o reconhecimento diplomático jamais indicou uma aprovação americana.
Mantivemos relações diplomáticas com a ex-URSS durante toda a época da Guerra Fria. E em 1970 reatamos relações diplomáticas com a China, o que foi apenas um instrumento da política exterior dos EUA, uma maneira de avançar nos interesses nacionais.
Apesar de ter uma renda per capita de US$ 200, o Vietnã representa, em termos populacionais, o 12º maior mercado do mundo. E está em rápida expansão. Há uma década que sua economia cresce à taxa anual de 8%. Só nos três primeiros meses deste ano, Hanói aprovou US$ 2 bilhões em investimentos estrangeiros. As trocas comerciais entre os EUA e o Vietnã no ano de 1994 ultrapassaram os US$ 8 bilhões.
Mais importante ainda é que, ao estabelecer relações diplomáticas com Hanói, avançaremos em nosso mais importante interesse no Vietnã: o mais completo e detalhado relato de possíveis MIAs (militares americanos desaparecidos no Vietnã). Foi por esta razão que o governo George Bush, apesar de toda oposição doméstica, estabeleceu um ``passo a passo" para expandir os contatos americanos com o Vietnã.
Dizer, como alguns, que o reconhecimento do Vietnã marcará o fim do processo é um erro: ao expandir sua presença oficial no Vietnã, os EUA ganham maior acesso aos fatos relacionados com os americanos desaparecidos no Sudeste asiático. Um Vietnã mais aberto será melhor para nós.
O reconhecimento oficial é reversível. Uma bloqueio vietnamita a respeito dos MIAs pode receber de Washington uma reação como o esfriamento das relações ou até o fim delas. A idéia de que a procura dos MIAs está sendo sacrificada no altar das vantagens comerciais é um boato cruel para os parentes e amigos dos desaparecidos.
Eis porque, entre os que apóiam o reconhecimento, há um grande número de pessoas que lutaram e sofreram na Guerra do Vietnã. É claro que outros veteranos e grupos como a Legião Americana são contra as relações diplomáticas. Devem ser respeitados, mas estão fora do contexto.
Durante a época do Vietnã, apoiei o esforço da guerra. Na época, como agora, não tinha muito respeito por aqueles que manipulavam o sistema para evitar o serviço militar. O fato é que Clinton é o presidente dos EUA e tem total responsabilidade e autoridade constitucional para dirigir a política exterior. Sempre me opus aos esforços do Congresso de solapar sua autoridade. Bloquear recursos para as relações diplomáticas mostra um mau manejo das relações exteriores pelo Congresso.
Ao agir assim agora e não mais tarde, Clinton evita fazer do reconhecimento um tema da campanha no ano que vem quando as posições apaixonadas estarão fervilhando. Mais do que isto, está ajudando a concluir um dos capítulos mais dolorosos da história.

Tradução de Lise Aron

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