São Paulo, domingo, 23 de julho de 1995
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Fundação Seade; Tortura e torturadores; Caso Banespa; Ladrões de galinhas; Indignação na Noruega; Vietnã; "Caminhonaço"

Fundação Seade
``Como se tem verificado em quase todos os órgãos da administração pública paulista, a Fundação Seade vem sofrendo um significativo processo de ajustamento aos novos padrões orçamentários, o que, no caso, atinge fortemente seu quadro de pessoal, responsável por 90% das despesas. Esse processo decorre das precaríssimas condições financeiras encontradas pelo governador Covas, herdadas de seus antecessores e agravadas pelo cenário do arrefecimento da atividade econômica no país. É reconfortante, neste momento, constatar a solidariedade, manifestada em cartas, artigos e declaraçÕes, de pessoas e entidades preocupadas com o futuro desta instituição. O conselho curador e a diretoria da fundação têm se empenhado ao máximo para que tal ajustamento não venha a atingir as funções essenciais do órgão, ao mesmo tempo em que busca parcerias e fontes alternativas de financiamento que possam assegurar a continuidade dos trabalhos com os mesmos padrões de qualidade e confiabilidade de que se orgulha esta instituição."
Pedro Paulo Martoni Branco, diretor-executivo da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (São Paulo, SP)

Tortura e torturadores
``Perplexidade e indignação: esses foram os sentimentos que a diretoria do Grupo Tortura Nunca Mais/RJ teve ao ler a reportagem `Grupo se especializa em caça aos torturadores', de 15 de julho. Reduzir as inúmeras atividades de uma entidade -que há mais de dez anos luta pelo resgate da história recente de nosso país- a `mera caça a torturadores' parece-nos, no mínimo, desrespeitoso e simplificador. Gostaríamos de assinalar alguns pontos. 1) A fotografia que abre a reportagem aponta para uma inverdade. O mural que aparece encontra-se na sede do Grupo Tortura Nunca Mais/RJ com fotos de mortos e desaparecidos políticos. A legenda abaixo da fotografia publicada diz: `Cecilia Coimbra, presidente do Tortura Nunca Mais, do Rio, que caça torturadores', o que faz supor que as fotos que se encontram no citado mural são de torturadores e não de militantes políticos assassinados nos anos 60 e 70. Informação que a reportagem, em momento algum, apresenta. 2) Os termos utilizados no texto, como `abatidos', `caça', `nesta guerra vale tudo', `caçadores' dão a impressão de que as entidades de direitos humanos que lutam contra a impunidade reproduzem com suas denúncias as mesmas práticas e métodos correntes durante a ditadura militar e que se perpetuam até hoje. Justiça e verdade históricas têm sido nossa meta, e nossas práticas têm apontado para a questão da ética na luta contra a tortura. 3) Os grupos Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro, Minas Gerais e a Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políticos -entidades citadas na reportagem- têm como principal eixo de luta o esclarecimento de um período da história do Brasil que muitos tentam esquecer. A questão dos mortos e desaparecidos políticos é assunto vital para nós. Questão que, até hoje, não foi nem sequer assumida e/ou resolvida por nenhum governo brasileiro. 4) Quando denunciamos membros do aparato de repressão dos anos 60 e 70 ocupando hoje cargos de confiança, estamos resgatando esse terrível período de nossa história. Estamos mostrando que nossa luta não está no passado. Estamos apontando que hoje os direitos humanos continuam sendo ultrajados e desrespeitados, que a impunidade e o esquecimento continuam sendo alimentados, que as culturas da indiferença e da violência vicejam em nosso país."
Cecilia Maria Bouças Coimbra, presidente do Grupo Tortura Nunca Mais/RJ, seguem-se mais oito assinaturas (Rio de Janeiro, RJ)

Caso Banespa
``Leio na coluna de Luís Nassif de 21/7 que, no caso Banespa, as operações `barras pesadas' começaram a aparecer a partir da gestão de Antonio Claudio Schochatvski, empossado em 91. Depois Nassif lembra que Vladimir Rioli livrou outros bancos do `mico' da CAC (Cooperativa Agrícola de Cotia) com fianças bancárias. Muito bem. Schochatvski e Rioli são ilustres tucanos. Se a imprensa não é a imprensa de maria-vai-com-as-outras -para usar uma expressão do próprio Nassif-, queremos ver se vão voar ou não ricas penas de ilustres tucanos no caso Banespa. Vamos aguardar."
Dalmo Pessoa, vereador de São Paulo pelo PMDB (São Paulo, SP)

Ladrões de galinhas
``Seria ótimo se cada brasileiro refletisse sobre o que disse o sr. Oded Grajew em seu artigo `Vamos aplicar a lei', publicado neste jornal em 26/6, lembrando, entre outras coisas, que parlamentares envolvidos em corrupção estão soltos, enquanto as prisões estão repletas de ladrões de galinhas. A propósito, aliás, quero dar uma sugestão: soltem-se 20% dos que estão presos, compreendidos aí os que estão na cadeia injustamente ou que já cumpriram a respectiva pena, e coloquem-se atrás das grades uns cem safados deste país -naturalmente bem selecionados."
Manoel de Souza (Jaraguá do Sul, SC)

Indignação na Noruega
``Estamos morando na Noruega e temos nos mantido informados sobre o que acontece no Brasil por recortes da Folha e de revistas remetidos por amigos. As notícias daí têm deixado muita gente com o mesmo desânimo, ou desencanto, de Ricardo Semler ao parar de escrever sua coluna. E parece que o corpo editorial da Folha está morto! Mas existe alguém vivo e lúcido o bastante -como o Janio de Freitas e o José Simão- para expressar sua indignação com as absurdas negociações de cargos que o governo vem fazendo com os congressistas, ou com outras aberrações, como a reação desses mesmos congressistas à singela letra da música dos Paralamas do Sucesso! Esse país não amadurece mesmo! Isso é jeito de ficar moderno? É de arrepiar. Mas a indignação é privilégio de quem ainda se mantém vivo!"
Silvia de Castro Arruda e Guilherme de Araujo Lucas (Trondheim, Noruega)

Vietnã
``A economia estatizada é o que sempre separou o social-comunismo dos `outros'. Se Vietnã, Cuba e China estão adotando a economia de mercado (que sempre execraram) de socialismo, só estão conservando a ditadura. Otavio Frias Filho não está `distorcendo os fatos', como acusa Renato Guimarães (`Painel do Leitor', 16/7), mas `constatando os fatos' para chegar à conclusão de que o Vietnã está renegando o socialismo. O casamento com a economia de mercado para salvar o socialismo é impossível, o mercado acabará com o socialismo. Feliz o animal, que, por não possuir a faculdade de se iludir, não sofre decepções."
Loreto Fella (São Paulo, SP)

"Caminhonaço"
``Refiro-me ao artigo `Caminhonaço e atraso' do ex-ministro Mailson da Nóbrega. O sr. Mailson insiste no preconceito com o setor rural. Não se trata de pleitear subsídio ao crédito rural. É preciso, porém, reconhecer que décadas de política econômica elaborada por economistas de viés financistas vêm prejudicando o desenvolvimento nacional. No último ano o setor agrícola foi desestabilizado pela política monetária de juros escorchantes que tem como bandeira mais visível a TR."
Pedro de Camargo Neto, presidente do Fundo de Desenvolvimento da Pecuária do Estado de São Paulo (São Paulo, SP)

``O artigo `Caminhonaço e atraso', de autoria do ex-ministro Mailson da Nóbrega (publicado na última sexta-feira pela Folha, à página 2-2), é de uma lucidez irrepreensível. A agricultura não se desenvolverá -aliás, não chegará a lugar algum- se continuar dependendo de um governo semifalido. É imprescindível desatrelar a política agrícola do financiamento oficial e do crédito rural subsidiado. Só o mercado, seja ele futuro ou não, aliado à estabilidade da moeda, tem condições de alavancar a agricultura. Os agricultores fariam mais por eles mesmos se parassem de mendigar a um governo inadimplente e procurassem se valer dos eficientes recursos do mercado. Como observou o ex-ministro, o CMG (certificado de mercadoria com emissão garantida) `já levanta mais recursos do que todo o volume que o orçamento oficial reserva para o crédito rural'."
Cesar Teixeira, presidente da Agrobolsa (São Paulo, SP)

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