São Paulo, segunda-feira, 24 de julho de 1995
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Amigos suspeitam de crime político

ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Há hipóteses diferentes para a morte do advogado criminalista José Francisco Silva.
Amigos de Arujá (35 km a nordeste de São Paulo) falam em crime político. Já os familiares dizem que um suposto câncer teria abalado psicologicamente o advogado a ponto de levá-lo ao suicídio.
Ontem, durante o enterro de Silva no cemitério do Morumby (zona sul), a prima do advogado, Selma Soriano, 30, disse que ele andava ``muito abalado" com a possibilidade de estar com câncer.
``A sua primeira esposa morreu há quinze anos vítima de câncer. Ele dizia que se estivesse com câncer ia resolver de alguma forma o problema", afirmou Selma.
Silva teria recebido o resultado do exame de um tumor no estômago na última quarta-feira. ``Qualquer que fosse o resultado, ele continuaria com a idéia do câncer na cabeça", contou a prima.
Segundo ela e outros familiares, Silva teria cometido suicídio por não suportar a idéia de conviver com a doença.
Mas há a versão política para o caso. De acordo com o também advogado Oswaldo (não quis revelar o nome todo) e o jornalista Walter Braga, ambos de Arujá, Silva poderia ter sido morto pelo seu envolvimento como advogado de defesa do acusado de mandar matar o ex-prefeito de Arujá Geraldo Barbosa. O crime ocorreu dia 6 de fevereiro de 1990.
Segundo Oswaldo, na semana passada, Silva ``recebeu quatro telefonemas de ameaças de morte por defender o ex-vice-prefeito João Pedro dos Santos". Santos está preso desde outubro de 1994. O julgamento estava marcado para 28 de junho passado, mas foi transferido para 19 de setembro.
Braga disse que falou por telefone às 20h de sábado -cerca de uma hora antes do crime- com o advogado e que ele ``demonstrou estar muito bem". ``Ele me disse que assistiria o jogo do Brasil", afirmou o jornalista.
Braga é proprietário do jornal de Arujá ``Folha Independente". Ele disse que recebeu o telefonema de Silva para acertarem o horário de uma entrevista coletiva que o advogado daria hoje, em Arujá, sobre o caso do assassinato do ex-prefeito da cidade.
O porteiro do prédio onde morava José Silva disse que não entrou ninguém no edifício procurando pelo advogado ou por alguém da família na noite do crime.
A mulher do advogado, Lúcia Rocha da Silva, e o filho do casal, A.F.T, não deram entrevistas.
Cerca de 20 pessoas compareceram ontem, às 17h, ao enterro de José Francisco Silva.

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