São Paulo, segunda-feira, 24 de julho de 1995
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Brasil ganha cicatriz na batalha uruguaia

ALBERTO HELENA JR.
ENVIADO ESPECIAL A MONTEVIDÉU

Meia hora antes de o jogo começar, soaram os tambores, num ritmo repetitivo, hipnótico, que levantou a torcida uruguaia, num grito de guerra.
Em seguida, as escalações, ditadas pelo alto-falante. Para os uruguaios, um tom litúrgico; para os brasileiros, sob uma vaia de rachar concreto, a rapidez de um chip.
Morteiros que soavam como salvas de canhão marcaram a entrada em campo das duas equipes.
A guerra vai começar.
E logo a primeira escaramuça: Roberto Carlos dá um carrinho de vinte metros em Herrera, que respondeu com um tapa na cabeça do brasileiro.
Mas, aos poucos, o Brasil foi dominando seus próprios nervos, a bola e o campo de batalha. Dunga, magnífico, no controle do meio-campo; atrás, Aldair, um bastião intransponível, enquanto Juninho atuava como um guerrilheiro na intermediária inimiga, e Edmundo abria rombos na defesa e no moral da tropa celeste.
O domínio brasileiro foi de tal ordem que o gol seria inevitável. E foi, numa jogada veloz e de alta técnica de Zinho, Edmundo, e, desta vez, sim, Túlio, de peito. Até o final do primeiro tempo, foi um passeio brasileiro nas trincheiras uruguaias.
Mas, no segundo, ai, ai, ai, eis uma bomba de Bengoechea, força reserva recrutada pelo técnico uruguaio. Gol.
O Brasil, bem que consegue reequilibrar as ações. Teve o desempate numa arrancada de Roberto Carlos, mas foi para o paredão dos pênaltis, onde acabamos fuzilados quando o tiro do artilheiro Túlio falhou na hora H.
Ouço ainda o urro das hordas inimigas ecoando no velho estádio, como um grito primal, coletivo.
A guerra acabou.
A propósito da crônica de ontem, socorre-me o Aurélio, com uma definição de Montevidéu: ``S.M. BRAS. RS. 1. Cicatriz de ferimento recebido em briga ou em batalha".

Foi um massacre, como se o Palmeiras resolvesse colocar as coisas nos devidos lugares, resgatando o mínimo de lógica nesse ilógico Campeonato Paulista.
Sim, porque o torneio foi disputado durante meses, dividido em duas séries. Numa, os melhores; noutra, os piores.
Pois dos piores ascende o Mogi, que, por uma sutil combinação de fatores, subitamente, pinta como candidato ao título. Claro que nesse coquetel entra seu bom futebol, um time bem armado por Pedro Rocha etc.
Mas é injusto, ilógico, esse Mogi chegar às finais do campeonato, ainda mais com vantagens sobre o adversário, que teve de roer osso para chegar lá.
Pois, então, o Palmeiras mete 5 a 1 no Mogi, sem deixar nem um resto de dúvida sequer. Para se ter uma idéia, não houve nem um gol sequer do Palmeiras que não fosse uma pequena obra de arte, culminando com o toque por cobertura de Válber.
Resumindo: o Palmeiras jogou sábado como um verdadeiro campeão.

Ontem, idem, com batatas, no tocante ao Corinthians que estraçalhou o Santos, por 4 a 2.
Quer dizer: podemos nem ter campo para a decisão. Mas será uma final inesquecível.

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