São Paulo, terça-feira, 25 de julho de 1995
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Eletrobrás, a maior, articula privatização

DA SUCURSAL DO RIO

Com ativos de US$ 76,5 bi, controlando 68 usinas e com tarifas congeladas, estatal tem rentabilidade de apenas 2,9%
A Eletrobrás (Centrais Elétricas Brasileiras) é a maior empresa brasileira, a primeira no ranking do Folha 300. Seus ativos somaram US$ 76,5 bilhões no ano passado.
Esse dinheiro é equivalente a 64% do que o Brasil deve aos credores estrangeiros (dívida externa) ou ao dobro do nível estimado das reservas internacionais (o caixa do país em moeda forte).
Controlando 68 usinas hidrelétricas e termoelétricas em todo o país, a estatal fechou o ano passado com uma rentabilidade de apenas 2,9%. Mesmo assim, o número é superior ao resultado obtido em 1993, que foi de 1,1%.
De janeiro a maio deste ano, a rentabilidade ficou em 1,6% e o lucro, em US$ 916 milhões.
O presidente da Eletrobrás, engenheiro Antônio José Imbassahy, 47, diz que a baixa rentabilidade decorre de um único fato: o Estado não sabe agir como empresário.
``O Estado tem de sair disso (da administração da geração de energia elétrica)", diz.
Ligado ao PFL, ele assumiu a presidência da Eletrobrás em 10 de maio último.
Entre as possíveis razões para a baixa rentabilidade da estatal está o fato de as tarifas permanecerem, desde o ano passado, congeladas. O governo teme, agora, que o reajuste acabe induzindo um movimento de alta generalizada dos preços.
A empresa, que não divulgou o número de funcionários, tem como fonte de receita a tarifa de suprimento (tarifa de geração de energia). Ela repassa energia a preço de custo para as companhias estaduais.
Imbassahy afirma que a tarifa não foi e nem pode ser corrigida por questões econômicas. Em sua avaliação do presidente da Eletrobrás, uma política de corte de custos não teria influência significativa no caso específico da empresa. É que, para ele, o problema da Eletrobrás está em remunerar o capital já investido no passado.
A privatização das empresas estatais de energia iniciou-se com a venda da Escelsa (companhia elétrica do Espírito Santo), privatizada há duas semanas. A próxima a ser vendida é a Light (do Rio de Janeiro).
O plano de privatização do governo federal inclui também as usinas hidrelétricas e termoelétricas. Somente as usinas nucleares não serão privatizadas, porque a empresa considera que, neste caso, há pouco interesse do setor privado.
O governo estuda alternativas para facilitar a privatização. Uma delas é a divisão da Eletrobrás em duas empresas -em uma seriam concentradas todas as empresas privatizáveis.
Imbassahy diz que pode haver dificuldade para vender as grandes usinas geradoras de energia. ``Quem no Brasil teria condições de comprá-las?", indaga. Os ativos da estatal representam pouco mais da metade de todo dinheiro que circula ou está aplicado no sistema financeiro.
O objetivo do programa é deixar o governo cuidando apenas do planejamento do sistema elétrico do país.
O presidente da estatal explica que, para proteger o consumidor final e o capital, é necessário o governo manter a função reguladora sobre o setor.
O processo de privatização das empresas de energia é, porém, necessariamente lento, em função da complexidade do sistema.
O presidente da Eletrobrás entende que a venda das companhias deve ser feita com ``responsabilidade para que entre capital produtivo e não especulativo".
À medida que os ativos forem sendo repassados para a iniciativa privada, a rentabilidade da estatal aumentará, prevê Imbassahy. A idéia do programa não se resume, porém, a vender os ativos da estatal para a iniciativa privada.
A Eletrobrás procura expandir o sistema de geração de energia buscando parcerias com o setor privado e ainda autorizando investimentos totalmente privados em construção de novas usinas -ambas as opções são previstas na chamada Lei de Concessões de Serviços Públicos.
As parcerias já estão sendo feitas nas usinas de Igarapava (Cemig), Serra da Mesa (Furnas) e Itá (Eletrosul).
A partir de setembro, serão lançados editais para a construção de mais sete usinas. O investimento total previsto é de cerca de US$ 2 bilhões.
Para os próximos 15 anos, a previsão do governo é que serão construídas 71 novas usinas, todas com recursos exclusivos da iniciativa privada.
Imbassahy diz que, por não ter condições de manter os cronogramas das obras, o governo muitas vezes acaba aumentando os custos das construções.
Já que o atraso no cronograma o obriga a pagar as multas contratuais.
As obras da iniciativa privada, afirma, podem sair a custos adequados.

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