São Paulo, terça-feira, 25 de julho de 1995 |
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Fotógrafo traz tesouros do baú de Orson Welles
AMIR LABAKI
Era com Graver que Welles iria filmar mais uma cena do inacabado ``The Magic Show" (O Show de Mágica) na tarde de 10 de outubro de 85. De manhã, um ataque do coração fulminou o diretor de ``Cidadão Kane" (1941). Gary Graver é um dos principais convidados internacionais do 11º Rio-Cine Festival, que abre também hoje na Casa França-Brasil uma curta retrospectiva dos filmes de Welles. As duas grandes atrações devassam o método criativo do gênio: ``Filming Othello" (Filmando Otelo, 1978) reconstitui as filmagens da maravilhosa versão wellesiana recém-restaurada para o clássico de Shakespeare. Já ``Working With Orson Welles" (Trabalhando com Orson Welles) faz o retrato do artista quando ancião. Graver fotografou o primeiro e dirigiu o segundo. Foi também um dos diretores de fotografia de ``Verdades e Mentiras" (F for Fake, 1973) e o diretor da série de comerciais de uísque japonês estrelados por Welles (``prefiro um comercial honesto a um filme desonesto", dizia), presentes no programa. Folha - Como o senhor se tornou o diretor de fotografia de ``The Other Side of The Wind" (O Outro Lado do Vento, 1970-76, inacabado)? Gary Graver - Liguei para Orson Welles quando ele estava em Hollywood. Ele queria trabalhar com um diretor de fotografia americano. Ele me disse que eu tinha sido o segundo fotógrado a lhe telefonar dizendo que gostaria de trabalhar com ele. O primeiro tinha sido Gregg Toland. Folha - Convidado por Welles para o papel do cineasta no mesmo filme, John Huston lembra em suas memórias (``Um Livro Aberto") que a improvisação dominava o ``set". Como foi para o senhor? Graver - Houve improvisação, mas nós trabalhávamos a partir de um roteiro longo. E de Orson você nunca sabia o que ele ia inventar para melhorar o filme. Não eram, assim, improvisações, mas aperfeiçoamentos. Folha - Parece que ``The Other Side of The Wind" não pôde ser terminado devido a dificuldades financeiras. É verdade que faltavam ainda duas semanas de filmagens? Graver - Welles bancou quase o filme todo. Tudo foi rodado. Não há nada faltando, exceto uma explosão atrás da tela de um cine ``drive-in". Nós estamos tentado finalizar agora o filme. Folha - Há material inédito em seu documentário ``Working With Orson Welles"? Graver - A maior parte do material de ``Working" é do meu arquivo pessoal e jamais fora vista. Folha - ``Filming Othello" está no programa mas pouco se sabe sobre outro projeto na mesma linha que Welles e o sr. começaram a rodar em novembro de 1981, ``Filming The Trial" (Filmando O Processo). O que houve? Graver - Nós rodamos apenas alguns dias. O projeto foi abandonado quando Welles começou a escrever roteiros que ele queria desenvolver. O filme nunca foi feito. Folha - Quando morreu, Welles estava rodando com o senhor um filme sobre o talento dele como mágico, chamado ``The Magic Show" (O Show de Mágica). O que aconteceu com o material filmado? Graver - ``The Magic Show" vai ser incorporado a um documentário longo de Oja Kodar (a viúva de Welles). Ela se tornou roteirista e diretora e já fez dois longas. O documentário está sendo neste momento editado. Folha - Welles é creditado como ``consultor de mágica" num filme de horror dirigido pelo senhor, ``Trick or Treats" (Truque ou Ameaça, 1982). Qual foi de fato a colaboração dele? Graver -Orson me deu algumas idéias sobre a estrutura da história e sobre mágica. Ele não aparece no filme. Eu o escrevi, dirigi, montei e fotografei. Folha - O senhor foi um dos mais próximos parceiros dos últimos 15 anos de vida de Welles. Ele morreu em paz com o destino dele em Hollywood? Graver -Orson era criativo, incansável e inventivo demais para estar em paz. Ele era melhor do que Hollywood merecia e mais esperto que todos os produtores. Texto Anterior: Filme viaja pelo interior Próximo Texto: Passagem do cinema mudo para o sonoro está no `M' de Fritz Lang Índice |
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