São Paulo, terça-feira, 25 de julho de 1995
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Violência a metro

A tradicional associação entre esporte e salubridade tem sido abalada nos últimos anos por uma sofisticação dos métodos de agressão nas grandes cidades. O uso crescente dos tacos de beisebol como arma de defesa pessoal entre adolescentes em São Paulo, registrado ontem pela Folha, permite constatar uma curiosa alteração no perfil das práticas de violência urbana.
Primeiro, a internacionalização das opções. O agressor recorre a um instrumento esportivo americano, porque melhor permite disfarçar as intenções do portador, diferentemente das armas de fogo.
Segundo, a coletivização das práticas. A truculência entre jovens se apresenta hoje, tal como nos esportes em geral, como atividade de gangue. Torna-se assim mais ostensiva e propicia maior cumplicidade entre os infratores.
Terceiro, a busca de eficiência. A ausência de instrumentos nos esportes agressivos tradicionais, como o boxe e a capoeira, ao exigirem melhor condicionamento físico, adiam a consumação da vitória. Porém, na posse de instrumentos como o taco, tudo se realiza com maior eficiência e objetividade.
Quarto, a perda do caráter classista. A prática da violência não é hoje apenas um meio de sobrevivência das classe baixas, mas também diletantismo de jovens muito bem alimentados, praticantes de esportes ``radicais" e lutas marciais.
Quinto, a generalização da fórmula futebolística ``o ataque é a melhor defesa". Alguns dos entrevistados vêem no taco ``uma arma (...) de efeito moral". Os instrumentos de agressão fazem parte agora de estratégias preventivas contra inimigos potenciais.
Os próximos passos desse processo de otimização das práticas de violência são imprevisíveis. O combate à truculência urbana não pode mais hoje particularizar as classes sociais e os territórios de incidência. Deve antes levar em conta a rapidez com que a transgressão se dissemina, apropriando-se até mesmo do que a princípio se admite como saudável para o homem.

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