São Paulo, terça-feira, 25 de julho de 1995
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Com as próprias pernas

Já houve um tempo, no Brasil, em que até mesmo a população mais carente conseguia encontrar um atendimento médico relativamente digno -pelo menos nos maiores aglomerados urbanos- fosse em hospitais da rede pública fosse em hospitais filantrópicos, como as Santas Casas.
As coisas mudaram -e para muito pior. O sistema público está falido. O SUS paga uma verdadeira miséria -R$ 2,00- por consulta médica. Um manobrista dos finos restaurantes dos Jardins de São Paulo recebe mais do que isso, numa operação muito mais rápida e de menor responsabilidade do que uma consulta médica que, afinal, diz respeito a vidas humanas.
Não cabe aqui analisar as causas que levaram ao colapso da saúde brasileira. Cumpre, isto sim, encontrar soluções. E várias importantes e eficientes tentativas vêm acontecendo em diversos hospitais públicos e filantrópicos do Brasil.
Uma experiência digna de nota é a da parceria entre a Santa Casa de São José dos Campos, a prefeitura local, médicos e empresas privadas. O governo do Estado também deveria estar participando, mas suspendeu provisoriamente a sua parte devido à falta de verbas.
A idéia de parceria é simples. O governo do Estado, por exemplo, constrói o hospital; a prefeitura, associações de médicos e particulares se cotizam para equipá-lo; e a Santa Casa, usando formas profissionais de gerenciamento, administra-o sem depender do repasse de verbas que não as empenhadas na construção e capacitação.
O principal problema do setor público não se dá tanto na construção de obras -em que pese a enorme margem de corrupção nessa área-, mas na sua incapacidade de gerir suas instituições sem depender de uma irrefreável e insaciável necessidade de novas e novas verbas. As parcerias são uma excelente oportunidade de manter instituições públicas ou filantrópicas caminhando com as próprias pernas.

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