São Paulo, quarta-feira, 26 de julho de 1995
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Leia a conversa de FHC com Pelé

É a seguinte a íntegra da conversa do presidente Fernando Henrique Cardoso com o ministro Pelé, no programa ``Palavra do Presidente" de ontem:

Presidente Fernando Henrique Cardoso - O Brasil é campeão de futebol, de basquete, de vôlei e de Fórmula 1. Mas o esporte não é importante só porque nos dá campeões.
O esporte é importante porque pode resolver muitos problemas que o país enfrenta.
Foi por isso que eu convidei para o ministério o nosso Pelé, um brasileiro que sabe o que é preciso fazer para ganhar medalhas, mas que também sabe como usar o esporte para mudar o Brasil.
Hoje, o ministro Pelé vai participar do programa e tem muita coisa para contar. Não é isso, ministro?
Pelé - Tenho muita coisa para contar, sim, presidente. Antes de começar, eu quero dizer que eu acredito que o esporte pode ajudar a melhorar a vida dos brasileiros. E não apenas conquistando medalhas e dando alegria ao nosso povo, mas com o meu ministério trabalhando em conjunto com os outros ministérios do governo, e trabalhando com o pessoal desse programa maravilhoso que é o Comunidade Solidária.
FHC - É verdade. E um bom exemplo é o programa Esporte Solidário, que o seu ministério vai desenvolver, a partir de agosto, nos sete municípios da Baixada Fluminense. Todos eles já integrados ao programa Comunidade Solidária. Como é que vai funcionar esse programa, ministro?
Pelé - Para começar, nós vamos construir e reformar quadras de esportes. E depois, vamos desenvolver atividades esportivas e treinar pessoas da comunidade para cuidar da saúde e da educação das crianças.
Em cada município da baixada, vamos atender a mais de 10 mil crianças e nos finais de semana a comunidade também poderá utilizar os centros desportivos.
Esse vai ser um trabalho de parceria: o Ministério dos Esportes, o governo do Rio de Janeiro, prefeituras municipais e a Caixa Econômica Federal.
FHC - Quer dizer que nesse trabalho, com o programa Comunidade Solidária, o seu Ministério dos Esportes vai colaborar com os ministérios da Saúde e da Educação?
Pelé - É isso mesmo. E nós também vamos tirar as crianças das ruas. Nós estamos desenvolvendo o projeto Bacuri, em Cuiabá, que vai servir de modelo para os outros Estados.
Nesse caso, a parceria é com o Ministério do Exército. Vamos utilizar a estrutura dos quartéis para tirar os meninos e as meninas das ruas. Não só para atividades esportivas, mas também para alimentar e cuidar da saúde e da educação dessas crianças, que vivem por aí, sem um teto ou qualquer tipo de assistência, como eu já venho falando há muito tempo, presidente. E nós estamos também transformando o esporte estudantil.
Nesse fim-de-semana, eu abri os Jogos da Juventude, em João Pessoa, lá na Paraíba. Até dia 29, 2.300 atletas de 27 Estados disputarão medalhas em oito tipos de esportes diferentes.
Estes são os primeiros Jogos da Juventude e estão no lugar dos antigos Jebs. Os Jebs são os Jogos Estudantis Brasileiros. Nós acabamos com eles porque queremos mudar a mentalidade dos estudantes que praticam esportes.
FHC - Seria mais ou menos mudar a mentalidade para que os nossos jovens entendam o sentido das competições?
Pelé - Exatamente. O que queremos é fazer com que os jovens participem dos campeonatos, não só por causa das medalhas, mas para competir, para crescer como cidadãos. É por isso que nasceram, este ano, os Jogos da Juventude. E vão nascer em 96, os Jogos das Escolas Públicas.
Presidente, os Jogos da Juventude são para aqueles atletas que têm potencial olímpico, que querem se dedicar ao esporte. Os Jogos da Escola Pública vão servir para integrar, para fazer com que os alunos participem.
FHC - A propósito, ministro, o nosso ensino público precisa de ajuda. E, pelo que eu estou vendo, os Jogos da Escola Pública seguem nesta linha.
Pelé - É isso, presidente. Eu aprendi a ler e a escrever numa escola pública, a escola Ernesto Dumont, de Bauru, no interior de São Paulo, numa época em que o ensino público era melhor do que o ensino pago.
Como o senhor e como o ministro da Educação, eu também quero que o ensino público melhore. E eu não tenho dúvida de que os Jogos da Escola Pública tenham um papel importante nesse processo. Esses jogos vão promover o renascimento dos grêmios estudantis.
FHC - Ministro Pelé, vamos falar um pouquinho sobre os grêmios, porque muita gente que está nos ouvindo agora talvez nem saiba o que é um grêmio estudantil. O grêmio era uma organização de alunos dentro da escola que promovia reuniões, festas e competições esportivas.
Pelé - Agora nós queremos que o grêmio estudantil incentive a participação, a cooperação dos alunos, inclusive para melhorar a qualidade do ensino. Tudo isso é para o ano que vem. A partir de setembro, vamos promover uma série de conferências, para preparar as mudanças, para mudar a cabeça dos professores de educação física.
Os estudantes das escolas públicas têm que ir para os jogos sabendo que o mais importante não é só a vitória, não é a medalha, o mais importante é participar.
FHC - Para fazer este trabalho é preciso ter decisão política. Isso o nosso governo tem e é fundamental a participação de outros setores. E nós já temos bons exemplos de participação. O Sesi, que colocou à nossa disposição mais de 600 centros de esportes e lazer em todo o país. A Confederação Nacional da Indústria está patrocinando a Olimpíada do Trabalhador, que começa dia 11 de agosto em São Paulo. E temos também o Banco do Brasil, que vem patrocinando há anos a nossa seleção de vôlei.
Hoje, eu e o ministro Pelé, queremos fazer um apelo aos empresários. É muito importante a ajuda de vocês aos grandes esportes como o futebol e o basquete, mas precisamos da sua parceria para os projetos que o ministro explicou. Eles também podem dar um bom retorno.
Por hoje era isso o que eu queria dizer. Eu quero agradecer a sua participação, ministro Pelé, e dizer que pode contar comigo nessa sua tarefa de melhorar o esporte do Brasil e assim melhorar a vida dos jovens do nosso país.

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