São Paulo, quarta-feira, 26 de julho de 1995
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Nem na ditadura

JANIO DE FREITAS

O Tesouro Nacional, que é o caixa do governo, deve ao Banco do Brasil R$ 7,8 bilhões. O prejuízo do banco, até esta altura do ano, é de R$ 1,7 bilhão. Basta, portanto, que o governo pague 21,8% de sua dívida para que o BB reencontre o equilíbrio.
De onde o professor Fernando Henrique Cardoso tirou a conclusão, emitida com tanta facilidade, de que só as demissões em massa podem salvar o Banco do Brasil da falência? Não foi, é evidente, de um raciocínio financeiro, nem ao menos da mais simplória aritmética -a que está ali em cima. Como não há, no caso, outros caminhos de raciocínio, só se pode deduzir que o intelectual não usou o que seria seu principal recurso.
Mas a conclusão foi exposta. De onde veio? Em parte, a parte menos importante, por certo da facilidade com que o professor Fernando Henrique produz afirmações desprovidas de fundamento, por mínimo que seja. E em parte, essa grave, do espírito elitista e autoritário que em tudo vê, como primeira saída, o desprezo pelo humano -trata-se de combater a inflação, de reduzir gastos governamentais, de ``organizar" a Previdência, de fechar rombos que a politiquice do próprio governo abre em um banco oficial, trate-se do que for.
A ditadura era mais pudica.
Não colou
A idéia é boa. O governo alega falta de dinheiro para cumprir o compromisso de realizar a reforma agrária e donos de terra são o segundo maior contingente de devedores do Banco do Brasil: é boa a idéia de providências para a troca da dívida por terras.
``Eles devem há 10, 15 anos, e não pagam", diz o ministro Andrade Vieira, da Agricultura, ao adotar a idéia depois de se espantar com a relação de usineiros de álcool e açúcar com grandes e velhos débitos no BB.
A troca não daria para muito, em reforma agrária, mas os ``sem-terra" da atual manifestação em Brasília atestam que, em relação ao seu problema, qualquer parcela de realização é lucro. O caixa espoliado do BB não se equilibraria com a troca, mas reduziria a menos da metade o seu rombo atual.
A idéia encontra um obstáculo, porém. É a íntima relação entre os usineiros e o governo, em particular, e o PSDB em geral. Apesar de toda a sua dívida, mesmo ``de 10, 15 anos", em junho beirou R$ 2 bilhões o crédito que o governo lhes concedeu, às custas do esfolado Banco do Brasil.
Não basta que uma idéia seja boa, portanto. É preciso saber para quem é boa -e só em função dos beneficiários o governo a aceitará ou não.
Mão única
Aberto o programa para moradia e saneamento, com dinheiro do FGTS. Como no Nordeste não há problema de moradia nem de saneamento, o programa foi instalado primeiro para São Paulo, sabidamente o Estado mais miserável e sem representantes no governo.

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