São Paulo, quarta-feira, 26 de julho de 1995
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Empobrecimento começou nos anos 80

VICTOR AGOSTINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) confirmam pesquisas realizadas pela Unicamp que apontam que 33% dos brasileiros vivem em situação de extrema pobreza.
Ou seja, dos 157 milhões de brasileiros 51,8 milhões não têm condições de suprir suas necessidades básicas, não conseguem comida, roupa, produtos de higiene, moradia decente, acompanhamento médico etc., segundo Elza Berquó, pesquisadora do Núcleo de Estudo de População da Unicamp.
``É lamentável. A desnutrição vai ter reflexos na saúde mental das crianças. Não dá para dizer mais nada. É muito séria essa situação. Ainda bem que existem entidades como a do Betinho para tentar diminuir a fome", disse Berquó, se referindo ao sociólogo Herbert de Souza, coordenador da campanha contra a fome.
Na opinião de Alda Marco Antonio, ex-presidente da extinta Funabem (Fundação Centro Brasileira para Infância e Adolescência) e ex-secretária estadual da Secretaria do Menor, ``o futuro dessas crianças não pode ser diferente do futuro do país".
Alda Marco Antônio acredita que o maior problema é a falta de uma política nacional para enfrentar a situação de miséria. ``Não vejo esforços significativos do governo para superar o problema."
Marco Antonio identifica um movimento diferente do que acontecia na década de 70 com relação ao aumento da pobreza nas grandes cidades.
Para ela, os atuais favelados são os sem-teto excluídos das cidades e não mais os camponeses do êxodo rural.
``Antes, havia a favelização de quem vinha do campo e não encontrava lugar para morar. Hoje, está sendo favelizado o morador da cidade. Todas as cidades brasileiras estão passando por um processo parecido com o do Rio de Janeiro", disse Alda Marco Antonio.
Na avaliação do coordenador da Pastoral do Menor da zona leste de São Paulo, padre Júlio Lancelotti, a ``atual situação de miséria dessas crianças é como se elas estivessem sentenciadas a uma pena que nunca vai ter fim".
Lancelotti, assim como Alda Marco Antonio, não vê ``horizonte" para as crianças. ``Pela falta de política, essas crianças estão condenadas à miséria perpétua", disse o padre.
Lancelotti afirmou também que ``muitas crianças não sobreviverão à fome. Outras cairão nas mãos do narcotráfico. Outras, ainda, não conseguirão emprego. Com o avanço da tecnologia, da Internet, elas ficarão à margem do mercado de trabalho. No futuro, essas crianças não vão poder manejar o mundo".
Ainda assim, disse Lancelotti, ``a divulgação dos dados do IBGE devem servir para sacudir a consciência nacional."

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