São Paulo, quarta-feira, 26 de julho de 1995
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Alívio necessário

ANDRÉ LAHÓZ

Um dos pontos mais ingratos da atual política econômica para o governo é o nível da taxa de juros.
Além de inibir os investimentos e aumentar o custo financeiro das empresas, uma taxa de juros de absurdos 4% ao mês eleva enormemente o custo da dívida pública.
Já parece haver certo consenso de que os juros vão cair ao longo do segundo semestre. Tanto declarações de membros da equipe econômica e do próprio presidente quanto as cotações no mercado futuro são indicadores deste fato.
No entanto, os juros futuros mostram que o mercado financeiro está apostando em uma queda muito pequena em agosto -dos atuais 4% para 3,97%.
É importante notar que a queda dos juros primários não necessariamente significa um relaxamento da atual política de crédito. Os juros para o tomador final dependem, além dos juros primários, dos compulsórios recolhidos pelos bancos e repassados ao custo do dinheiro para o público.
Juros menores se justificam por vários motivos.
Em primeiro lugar, a inflação vai cair a partir de agosto. Os preços devem subir em média algo como 3,5% em julho e 2,5% em agosto.
Como há um cenário positivo de inflação para o segundo semestre (a inflação deve cair mais em setembro), o governo pode baixar a taxa nominal sem perder em termos reais.
Além disso, o país voltou a receber um volume grande de dólares do exterior, necessário para financiar o déficit em conta corrente (balança comercial e de serviços) da ordem de US$ 19 bilhões neste ano.
Já há mesmo quem diga que esta entrada é atualmente excessiva, dado o custo para o governo de manter as reservas em nível elevado. Por aí também, portanto, há espaço para redução dos juros.
Por outro lado, o Banco Central decidiu (corretamente) desvalorizar gradualmente o real.
Isto representa um ganho para os exportadores, diminuindo a necessidade de juros elevados para que os mesmos adiantem os contratos de câmbio e apliquem o dinheiro no mercado interno.
Há ainda a questão política. Em agosto recomeçam as negociações no Congresso, e há uma grande pressão por parte da sociedade para que os juros caiam.
Se todos estes são motivos para que o Banco Central pratique juros menores, há de outro lado a necessidade de a economia entrar definitivamente em uma fase de desaquecimento.
Uma redução na taxa de crescimento econômico se justifica por dois motivos: de um lado, ajuda a equacionar o desequilíbrio comercial; de outro, ajuda a segurar os preços internos.
Dados do Ipea, publicados hoje, mostram que a economia deve crescer 5,9% em 1995 -número maior do que o desejado pelo governo.
Apesar disso, os sinais de desaquecimento econômico nos últimos meses são inúmeros.
Tais sinais, somados com os demais pontos acima descritos, parecem indicar a existência de um claro espaço para uma redução dos juros mais agressiva do que aquela projetada pelo mercado futuro.
O Banco Central pode e deve sancionar juros primários significativamente menores, diminuindo a pressão sobre a dívida pública. À medida que as pressões políticas e sinais ainda mais claros de desaquecimento forem se acumulando, o governo poderia retirar gradativamente os compulsórios dos bancos, afrouxando a política de crédito.

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