São Paulo, quarta-feira, 26 de julho de 1995
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Tudo é perfeito em ``Quanto Mais Quente"

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Listas de melhores filmes costumam ser pobres em comédias. Felizmente José Wilker não compartilha do preconceito contra o gênero. Em sua seleta lista está talvez a maior comédia de todo o cinema falado: ``Quanto Mais Quente, Melhor" (1959), de Billy Wilder.
Numa história aloprada e veloz do primeiro ao último minuto, misturam-se a comédia, o romance e o filme de gângster.
O roteiro, de Wilder e I.A.L. Diamond, é primoroso. Em 1929, em Chicago, dois músicos (Tony Curtis e Jack Lemmon) presenciam sem querer o famoso massacre do St. Valentine's Day (ajuste de contas entre gangues rivais).
Para salvar a pele, eles se vestem de mulher e entram numa orquestra feminina que parte de trem para Miami.
O problema se complica quando entra em cena a exuberante cantora da orquestra, Sugar (Marilyn Monroe, em plenas formas), por quem, obviamente, ambos se apaixonam.
Em Miami, enquanto Curtis se disfarça de milionário para conquistar a garota, Lemmon fica ``noiva" de um milionário verdadeiro (Joe E. Brown). Este último é responsável pela última e mais famosa fala do filme (``Ninguém é perfeito"), dita depois que Lemmon lhe revela que é homem.
As gags, piadas e referências jocosas ao próprio cinema se sucedem freneticamente. Numa destas, um gângster (George Raft) brinca de jogar ao ar uma moeda, cacoete comum aos mafiosos interpretados pelo ator nos anos 30 e 40. Alguém lhe pergunta: ``Onde aprendeu esse truque barato?".
Seria difícil encontrar alguma falha ou ponto fraco nessa comédia em que Billy Wilder radicalizou ao extremo a arte de seu mestre Ernst Lubitsch de produzir o humor a partir do mal-entendido e do duplo sentido.
O filme é tão bom que quase não coube nos cânones de Hollywood. Indicado para os Oscars de diretor, ator (Lemmon), roteiro, fotografia e direção de arte, ficou só com o de figurinos.
Em compensação, quando pediram a opinião de Pedro Almodóvar sobre ``Quanto Mais Quente, Melhor", o diretor espanhol respondeu: ``Eis um filme que eu daria um braço para ter feito".

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