São Paulo, quarta-feira, 26 de julho de 1995
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Wilker prefere a sala de sua casa

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

Cinéfilo de carteirinha desde a infância, em Juazeiro do Norte (CE), quando assistia a seriados como ``Flash Gordon", o ator José Wilker tem hoje em sua casa uma videoteca que soma entre 3.000 e 4.000 títulos -70% deles em videolaser.
``Vejo vídeos quase todos os dias. Minha mulher também vê, mas reage um pouco, porque eu acabo indo pouco ao cinema", diz. O ator começou sua coleção de títulos porque, em 1974, quando importou um dos primeiros aparelhos de videocassete no país, não encontrava fitas para alugar.
Também nunca se interessou em gravar filmes da TV, pois a maioria é dublada. ``É desesperador ver filmes dublados", afirma.
Esta aversão já o levou a recusar convite para dublar a voz de Clark Gable em ``... E o Vento Levou...". ``Jamais ia levar a sério esse filme me ouvindo falando pela boca do Clark Gable."
Sem opção, acabou tomando gosto de colecionador. Ao longo dos anos, passou a engordar sua videoteca com fitas compradas no exterior, sobretudo em Nova York.
``A grande vantagem do videocassete é ter um canal de televisão que você programa. E há coisas em vídeo que você normalmente não assiste na TV", diz.
O ator assiste a determinado filme de sua coleção em função das fases de sua vida. Quando está ensaiando novo trabalho, um filme acaba servindo como referência.
Muitas vezes, revê um filme para escrever uma crítica para a revista da rede de TV a cabo NET. Costuma também assistir pelo puro prazer de recordar seus filmes prediletos, em geral convidando amigos para jantar.
Wilker diz que muitos filmes devem ser vistos antes no cinema, para se ter a real dimensão da força das imagens, mas reclama da qualidade precária de várias salas de exibição -um dos motivos por que prefere ficar em casa, com sua videoteca.
O maior problema, para ele, tem sido encontrar no Brasil vídeos que satisfaçam seu gosto. Segundo Wilker, o mercado brasileiro de vídeos ``é estranhíssimo".
Existem poucos títulos estrangeiros disponíveis, mas, algumas vezes, ele até encontra filmes que não consegue comprar no exterior, em lojas como a Modern Sound e a Gramophone.
Cita como exemplo ``O Incrível Exército Brancaleone", do italiano Mario Monicelli. ``Comprei aqui, mas não encontrei nem nas locadoras da Itália que já visitei."
Conseguiu também comprar aqui o que considera algumas das preciosidades do cinema nacional, como ``Nem Sansão Nem Dalila", de Carlos Manga, de 1954.
Em Nova York, um de seus pontos prediletos de compras é a loja da distribuidora ``Video Yesteryear". ``É uma lojinha de nada, um buraco."
Ali, conseguiu uma raridade: ``The Passion of Joan of Arc" (A Paixão de Joana d'Arc), de Carl-Theodore Dreyer, de 1928, com o teatrólogo francês Antonin Artaud (1896-1948).
Atualmente, o ávido colecionador tem se dedicado não só a comprar títulos novos, mas a substituir aqueles ainda em fitas de videocassete para discos de videolaser.
Além de uma melhor qualidade de imagem e som, Wilker destaca a maior facilidade de manutenção. ``O Rio é muito úmido e a fita de vídeo mofa muito."
Apesar de sua vasta coleção, que nenhum(a) amigo(a) pense em pedir uma fita ou um disco de videolaser emprestado. É ciúme puro. ``Eu gosto do objeto, independentemente do conteúdo."

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