São Paulo, quarta-feira, 26 de julho de 1995
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Tarifas desindexadas

Um mérito inegável do Plano Real foi ter evitado o choque e o artificialismo. O contraponto já caricato continua sendo o fracassado Plano Cruzado, que abusou da surpresa para impingir um congelamento de preços insustentável.
Mas o presidente Fernando Henrique Cardoso está agora decidido a segurar pelo maior prazo possível os preços públicos, apesar de ter sido desde sempre um crítico severo dos artificialismos na economia.
A viabilidade ou a durabilidade dessa política de contenção de preços depende principalmente da redução de custos nas estatais.
Em outras palavras, o grau de artificialismo dessa política será maior ou menor em função da capacidade dessas empresas, por exemplo as fornecedoras de energia, combustível e telefonia, de racionalizar suas despesas, reprogramar investimentos e redesenhar seus esquemas de financiamento.
Mas é necessário sobretudo que se abandone a velha mentalidade inflacionária segundo a qual a correção de preços públicos deve ser automaticamente igual à inflação acumulada num dado período. O realismo tarifário deve ser conquistado não a partir de uma fórmula de indexação e sim pela reestruturação gerencial, produtiva e financeira do setor produtivo estatal.
Mesmo porque muito além do problema tarifário imediato está o horizonte de privatização dessas empresas em condições vantajosas para compradores e vendedores.
Evidentemente, o represamento de tarifas será deletério se o setor se mostrar incapaz de realizar esse ajuste. E, óbvio, se a inflação não cair mais nos próximos meses.
O dilema é análogo ao que se apresenta na política cambial. O câmbio hoje não está indexado, mas não está fixo ou congelado. Serve como indutor de modernização industrial e acicate competitivo.
Desindexar tarifas é um desafio oportuno e racional. Mas que exige disposição para mudar e, mais, força para enfrentar todos os que resistem à mudança. Caso contrário, a estabilidade será apenas, mais uma vez, ilusória e temporária.

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