São Paulo, quarta-feira, 26 de julho de 1995
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Exportações

ANTONIO DELFIM NETTO

Nenhum indicador é mais significativo da miopia das políticas econômicas do que a discriminação contra as exportações. Exportação estagnada significa equilíbrio macroeconômico abaixo do pleno emprego e taxas menores de crescimento. Sem estímulo vigoroso às exportações não existe nenhuma possibilidade de crescimento forte e estável a longo prazo, porque as exportações existem apenas para pagar as importações!
As autoridades brasileiras saudaram as exportações de 1994 (US$ 43,6 bilhões) como um resultado extraordinário (13% de crescimento!), usando a esperta retórica que caracteriza os ``nouveaux économistes". No entanto, esse resultado foi medíocre, como se vê pela tabela abaixo:

Um simples olhar para esses números mostra que no caso brasileiro há alguma coisa funcionando mal. E as perspectivas para 1995 não são nada brilhantes. Provavelmente as exportações crescerão em torno de 5% a 10%, mas as importações repetirão um crescimento entre 30% e 40%, mesmo com as restrições físicas que estão sendo impostas. Até junho o crescimento das importações andava próximo de 100%!
Dois estudos recentes sugerem como o problema da exportação é delicado e como as incertezas introduzidas pela política econômica podem afetá-la.
Gordon Menzies (The Australian Economic Review, 4th. Quarter, 1994: 72-86) e Mark Roberts (Policy Research Paper 1436, World Bank, 1995) mostram com clareza que a entrada das empresas no comércio mundial tem um custo inicial bastante alto: elas precisam de informações onerosas sobre o mercado, têm de ajustar seus produtos à qualidade exigida, tem de modificar suas embalagens, têm de se ajustar ao gosto dos importadores e têm de construir canais de comercialização. Pela teoria, a entrada no comércio mundial depende da comparação entre esse custo inicial a fundo perdido e o valor atual dos lucros que se espera obter com a ampliação de suas vendas. Os dois trabalhos confirmam empiricamente esse fato.
Deles decorre, como consequência natural, que as exportações, uma vez iniciadas, tendem a se perpetuar, mesmo quando as condições pioram no curto prazo, como é o caso, por exemplo, de uma sobrevalorização do câmbio. Mas um resultado interessante é que, uma vez fora do mercado por dois anos, a empresa perde todo seu investimento inicial e tem de recomeçar o longo processo de volta. Por outro lado, aumentar as exportações exige a permanente entrada de novas empresas no setor, o que não acontece quando as condições são desfavoráveis.
A conclusão dos dois trabalhos é que provavelmente os subsídios para expandir as exportações funcionam mal porque são percebidos como temporários. Se queremos ampliar as exportações é melhor prestar atenção na taxa de câmbio real, melhorar a infra-estrutura e eliminar as incertezas da política econômica volátil.

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