São Paulo, quarta-feira, 26 de julho de 1995
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A lista de ACM

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - O ministro da Cultura anda sumido, provavelmente meditando sobre as maravilhas da inteligência nacional, da qual ele e FHC se julgam próceres. A última descoberta de sua própria cultura foi reconhecer em ACM uma liderança progressista, preocupada com o social -uma forma de autocrítica pessoal, uma vez que no PT, seu partido de origem, ele pensava exatamente o contrário.
Tanto estava errado que o senador baiano acaba de dar provas de sua preocupação social, aqui entendida em seu conceito mais profundo e abrangente. Diz ele que tem uma lista de corruptos e vigaristas que estão sendo nomeados para cargos do segundo escalão.
Por espantosa coincidência, essas indicações não estão sendo feitas pelo Lula, pelo Brizola, pelo Amazonas. Embora a nação desconheça a lista, a proverbial sutileza de ACM deixa claro que os padrinhos dos corruptos e vigaristas são de casa, quer dizer, da casa deles, governo.
O PSDB e o PFL garantem que estão no poder para inaugurar a nova era de modernidade e eficiência. A era Vargas acabou, e com ela o paternalismo, o compadrio, essas coisas que infelicitavam a vida nacional e entravavam o nosso progresso.
Por isso mesmo, ACM ameaça divulgar a lista. Não se deve supor que seja uma chantagem, um ``ou me atendem ou eu boto a boca no trombone e divulgo os podres". Pelo contrário: é mais um serviço patriótico, uma nobre manifestação cívica do ex-governador baiano. Ele deve conhecer os podres que FHC diz que não existem. Com as qualidades que o ministro da Cultura viu nele, ACM pretende aprimorar o regime e livrar o governo neoliberal dos vícios antigos.
O presidente da República quer ver a lista. Em princípio ele nem está aí, nessas picuinhas menores que perdem tempo em saber quem nomeia quem. Suas prioridades políticas são outras. A navegação de cabotagem, por exemplo, que o Congresso aprovou com docilidade. Felizmente, seu aliado ACM tem a serenidade que se exige para esses momentos: listou os maus cidadãos que se infiltraram no panteão do poder. O povo, penhorado, agradece.

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