São Paulo, sexta-feira, 28 de julho de 1995
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A (i)lógica do arrocho

LUÍS NASSIF

Vamos tentar entender a lógica da política monetária.
Com o arrocho, as autoridades econômicas visam dois objetivos principais:
1) Atrair dólares para fechar o balanço de pagamentos.
2) Desaquecer a atividade econômica, visando o equilíbrio do balanço de pagamentos e a redução de pressões inflacionárias.
Quanto ao primeiro objetivo, a maior parte desse investimento especulativo é dinheiro brasileiro no exterior, internalizado pelo Anexo 4. Lá fora, seria remunerado a 8% a 10% ao ano. Internamente, empresas brasileiras têm conseguido captar dinheiro a médio prazo, a 15% a 20% ao ano.
No entanto, oferece-se a esses investidores de curto prazo taxas reais entre 30% a 40% ao ano -que impactam diretamente a dívida pública. Após o cataclisma do México, podia-se entender taxas dessa natureza, provisoriamente, para estancar a corrida contra o real. Mas no último mês houve elevação expressiva das reservas cambiais e há perspectivas concretas de restabelecimento do equilíbrio na balança comercial ainda este mês.
Desaparecem as causas, mas mantém-se os efeitos. Qual a lógica?

Juros e estoques
Em relação ao segundo objetivo, mantém-se juros altos e crédito restrito para convencer empresas capitalizadas que é mais rentável aplicar no mercado financeiro e ganhar 4% ao mês do que constituir estoques. E as descapitalizadas de que não vale a pena se endividar a um custo de 8 a 10% ao mês para constituir estoques. E as descapitalizadas de que não vale a pena se endividar a um custo de 8 a 10% ao mês para constituir estoques.
Com a desaceleração da economia, caem as oportunidades de ganhos com estoques. Mas mantém-se as mesmas taxas de quando a economia ainda estava aquecida e os ganhos com estoques eram mais promissores.
Remeto-me ao editorial da Folha de ontem que, sob o sugestivo título ``Indecência", diz o seguinte: ``O consumo está caindo, as reservas estão em nível adequado, para dizer o mínimo. As entradas de capital em julho beiram os limites orgiásticos. Uma orgia às custas dos cofres públicos, da saúde financeira das empresas e da promessa, cada vez mais retórica, de um ajuste econômico atento às condições sociais. Ou as autoridades não acreditam mais nos vários argumentos que ofereceram nos últimos meses para sustentar juros elevados, ou, o que é pior, há intenções nada transparentes na política obsessiva de atrair recursos externos no curto prazo".

A ``nova classe"
A revista ``Exame Vip" deste mês, em reportagem de Fernando Valeika de Barros e Thales Guaracy, avança informações relevantes para entender a ``nova classe" -os operadores de mercado que, a partir de passagens pelo governo, especializaram-se em operar contra o Estado por meio do mercado financeiro, conforme informou a coluna em 4 de março.
Inicialmente, lançaram-se à farra tendo como álibi alimentar caixinhas políticas de partidos que lhes davam acesso ao poder. Depois, ganharam vida própria e passaram a colocar sua tecnologia a serviço de qualquer partido.

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