São Paulo, sexta-feira, 28 de julho de 1995
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Lições de Sucupira

WILSON BALDINI JR.

Os brasileiros tiveram seu primeiro contato com a ``nobre arte" há mais de oitenta anos. Precisamente em 16 de março de 1913.
Um aposentado peso-pena francês (com quase 60 quilos), cujo nome não ficou registrado, desembarcou em São Paulo.
Ele havia trocado os ringues pelos palcos e fazia parte de um grupo de teatro, que tinha a direção do italiano Tita Ruffo.
Naquela manhã, o elenco foi visitar o Campo do Floresta. Lá, encontraram Luís Araripe Sucupira, o ``Apolo Brasileiro".
Sucupira, todas as manhãs, fazia exercícios e revelava seus músculos avantajados, distribuídos nos seus quase cem quilos.
A presença de atrizes estrangeiras no local aumentou ainda mais o narcisismo de Sucupira, que diversificou suas poses.
Tudo corria bem para o ``Apolo Brasileiro", até o momento no qual o francesinho resolveu desafiá-lo para uma luta de boxe.
Sucupira considerou o desafio ridículo, mas resolveu aceitá-lo. Seria uma boa chance para ``aumentar seu cartaz com as atrizes".
Um ringue no chão de terra foi improvisado, o francesinho ofereceu um par de luvas para Sucupira e o primeiro round foi iniciado.
Entusiasmado com sua vantagem física, ``Apolo" partiu para o ataque e desferiu uma sequência de golpes no ar. A esquiva do pequeno francês era perfeita.
Os contra-golpes foram desprezados e apenas alguns jabs acertavam levemente o rosto do desajeitado e grandalhão Sucupira.
Segundo round. Afoito, ``Apolo" vem com maior fúria. Mais esquivas e, após golpes na cintura de Sucupira, o francês encaixa um fortíssimo direto de direita.
Sucupira caiu nocauteado, com o nariz quebrado. Sangrando e com dor insuportável, o brasileiro tirou as luvas e partiu para a briga.
O francês sorriu. Percebendo a sua total ignorância, Sucupira teve humildade para pedir desculpas, reconhecer a superioridade do adversário e passar a estudar o boxe.
Pois bem. O que sobrou a Sucupira há oito décadas falta hoje ao boxe brasileiro. Lamentavelmente, a partir de hoje, esta coluna comentará o mínimo possível sobre o boxe nacional.
Até que os homens que dirigem a nossa nobre arte passem a fazê-lo com honestidade.
Existem pessoas nas quais se pode confiar, mas infelizmente elas estão sendo sufocadas.
Dizem que cobras não pode viver juntas porque se matam. Vamos esperar que elas morram.

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