São Paulo, sexta-feira, 28 de julho de 1995
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"A Sombra da Dúvida" evita excessos

BIA ABRAMO
DA REPORTAGEM LOCAL

Filme: A Sombra da Dúvida
Direção: Aline Isserman
Produção: França, 1993
Elenco: Sandrine Blancke, Alain Bashung, Mireille Perrier, Josiane Balasko, Emmanuelle Riva
Onde: a partir de hoje no Belas Artes Sala Niemeyer

Há assuntos em que se pode permitir uma certa dose didatismo e alguma linearidade. Uma questão espinhosa e terrível como o abuso sexual de crianças certamente é um deles.
"A Sombra da Dúvida", quarto filme da diretora francesa Aline Isserman, não apenas se arroga esse direito como o faz com convicção. É o que quase estraga irremediavelmente a mão leve e a excelente direção de atores de Isserman.
Enquanto está apresentando o drama da menina Alexandrine (Sandrine Blancke), que acusa o pai de abuso sexual, a diretora chega a emocionar a habilidade com que escapa do óbvio, do sentimental e mantém um clima povoado de incerteza.
Aline Isserman consegue uma proeza com a jovem e surpreendente Sandrine Blancke. Alexandrine, de 11 anos, é construída por ambas com sensibilidade fora do comum, como todas as zonas de sombra que exige o personagem.
O pai autoritário e sinuoso (Alain Bashung) e a mãe distante e fria (Mireille Perrier) compõem o ambiente hipócrita e cheio de segredos com segurança.
Às tantas, o filme ganha um tom policial, investigativo e quase que todo o esforço de conter o lado apelativo e tratar a história com sutileza vai por água abaixo. Não chega a virar um dramalhão padrão hollywoodiano, mas insiste de forma militante na denúncia.
Mesmo assim, "A Sombra da Dúvida" conserva seu interesse. Aline Isserman ainda evita os excessos, por exemplo, não caindo na tentação de expor a crueldade do processo judicial que confronta e dilacera a família inteira.
Josiane Balasko faz uma intervenção simpática e correta como a assistente social Sophia. O brilho maior, entretanto, pertence a Sandrine Blancke. A atriz é uma verdadeira revelação. (Bia Abramo)

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