São Paulo, sábado, 29 de julho de 1995
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``Guerra" dos carros se transfere para fronteiras internas do Brasil

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

A ``guerra" dos carros que não houve entre Brasil e Argentina está acontecendo agora, dentro das fronteiras brasileiras, envolvendo as montadoras e fornecedores.
Tudo por causa da MP (medida provisória) que delineou uma política industrial para o setor automotriz, editada em junho e reeditada há 10 dias.
Duas reuniões promovidas pelo Grupo Permanente de Política Industrial (GPPI) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo foram absolutamente inúteis.
Resultado: a Fiesp preferiu deixar que os 11 setores da cadeia que termina com o automóvel pronto na revendedora tentassem resolver o problema entre eles.
Tampouco funcionou. Tanto é assim que o Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores) baixou ordem de silêncio para seus membros.
Ninguém fala para não atrapalhar a negociação com a Anfavea (Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores).
A batalha coloca de um lado as montadoras e de outro todos os seus fornecedores.
``A MP dá o máximo de proteção para as montadoras e deixa seus fornecedores sem o mínimo", resume Roberto Nicolau Jeha, presidente do GPPI da Fiesp.
As montadoras, lembra Jeha, ganharam uma alíquota de importação de 70%, com o que ``o produto delas fica protegido".
Ao mesmo tempo, para a matéria-prima que entra na fabricação de veículos (aço, autopeças, pneus, vidros etc.), a alíquota caiu para 2%, gerando a desproteção apontada por Jeha.
Mas há mais pontos polêmicos na MP. O Sindipeças não abre mão, por exemplo, de um índice de nacionalização superior aos 60% fixados pelo governo.
Hoje, o índice não está em lei alguma, mas é de 85% na prática. Diminuí-lo significa mais importações e, por extensão, menos compras na indústria local.
Outra queixa é contra a possibilidade de as montadoras importarem US$ 1 para cada US$ 1 que exportarem. O Sindipeças pedia, inicialmente, que se dobrasse o volume exportado (para US$ 2, portanto) para ter direito a importar US$ 1. De novo, menos importações significariam mais compras internas e vice-versa.
A batalha envolve uma substancial pilha de dinheiro e um bom número de empregos, a julgar pelos dados esgrimidos pelas partes.
Só na área do aço, 20% da produção total brasileira é hoje consumida pelas montadoras. Com uma alíquota de importação de apenas 2%, as montadoras podem preferir trazer aço de fora, afetando as fábricas locais.
Nas autopeças, a previsão de uma consultora especializada é de uma queda de faturamento próxima aos US$ 6 bilhões, se a MP for mantida tal como está.
``Toda a cadeia produtiva fica numa posição muito delicada", resume Roberto Nicolau Jeha.

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