São Paulo, sábado, 29 de julho de 1995
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País terá metade do dinheiro da Parmalat

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil foi escolhido pela Parmalat SpA, líder mundial no segmento de leite fluído (líquido e pasteurizado), para receber neste ano a metade de todos os investimentos produtivos que a empresa fará em 18 países.
``Ouvi muita gente dizer que há uma recessão no Brasil. Pessoalmente, não vejo a coisa assim. Vamos crescer 35% aqui este ano", disse ontem à Folha Calisto Tanzi, acionista majoritário e presidente do conselho de administração da Parmalat SpA.
No início da década de 60, Tanzi era um pequeno vendedor de presuntos em Parma, no norte da Itália. Hoje, o empresário controla 84 fábricas e vendas anuais de US$ 3 bilhões.
Os investimentos diretos nas 32 fábricas da empresa no Brasil devem somar US$ 50 milhões em 1995. Outros US$ 55 milhões irão para áreas de distribuição e marketing, incluindo neste item a verba para financiar o Palmeiras, time paulista patrocinado pela Parmalat desde 1992.
Segundo Tanzi, o Brasil já responde por 30% do faturamento do grupo em todo o mundo. Ele veio ao Brasil para participar de uma reunião com diretores de todos os países onde a Parmalat opera.
Leia a seguir trechos da entrevista que concedeu ontem à Folha:

Folha - Qual a importância do mercado brasileiro para a Parmalat?
Calisto Tanzi - Para nós, o Brasil é hoje o mercado mais importante do mundo. É o mercado que mais cresce e que tem o maior potencial. Muita gente diz que o país está em crise. Para nós, isso não existe. O consumo de nossos produtos vai crescer 35% este ano no Brasil. Na Itália, dificilmente chegaremos aos 10%.
Folha - O Brasil está no meio de um processo de estabilização. O sr. não teme uma reversão de expectativas, como aconteceu com o México em dezembro, ou uma forte recessão, como na Argentina de hoje?
Tanzi - O Brasil tem um potencial muito maior do que o México e é um país diferente. Tem uma estrutura industrial, matérias-primas e agricultura muito mais desenvolvidas que o México e Argentina. O maior problema que vejo no Brasil no momento é o custo do dinheiro. É muito difícil expandir qualquer atividade com um juro de 4% ao mês. É um freio para os investimentos estrangeiros.
Folha - Mesmo assim, a Parmalat está investindo muito no Brasil neste ano.
Tanzi - Sim. Serão US$ 105 milhões, sendo a metade para investimentos em nossas fábricas. De todos os nossos investimentos produtivos no mundo, o Brasil vai receber a metade neste ano. Atualmente, comercializamos 360 itens diferentes no Brasil e o objetivo é chegar a 600, o mesmo número que temos na Itália. Lançamos 30 novos produtos aqui apenas no primeiro semestre. Mas o principal produto continua sendo o leite, que responde por 55% do faturamento.
Folha - Falando de futebol, o que um homem acostumado ao mundo dos negócios, onde as pessoas são pagas para acertar quase sempre, pensa quando um time como o Palmeiras leva uma goleada de 5 a 0, como a de quarta-feira contra o Grêmio?
Tanzi - A culpa é minha. Eu sempre levo azar aos times que a Parmalat financia (são nove em todo o mundo). É por esta razão que volto para a Itália hoje (ontem). Se eu ficar por aqui, é capaz de o Palmeiras perder para o Corinthians no domingo.

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