São Paulo, sábado, 29 de julho de 1995
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Inflação na gangorra

Em face de juros escorchantes, da crise do México e dos riscos do endividamento externo do Brasil pode até parecer que a inflação é um problema já razoavelmente equacionado. A elevação de 3,99% dos preços na cidade de São Paulo, apurada pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) na terceira quadrissemana de julho, mostra, porém, que há pela frente uma árdua batalha até que se consolide a credibilidade do real.
Numa clara demonstração de que a chamada cultura inflacionária segue viva e forte, governadores e prefeitos têm aumentado, em porcentagens próximas à da inflação passada, as tarifas sob seu controle. No município de São Paulo, quase 1% da alta de 4% no índice de preços deve-se ao aumento de 30% das tarifas de ônibus. Pouco importa às empresas de transporte -e aos prefeitos que cederam a suas pressões- que o preço do óleo diesel esteja hoje ligeiramente mais baixo do que em julho de 94.
E essa mentalidade de que qualquer aumento é sempre um ``reajuste" está arraigada em toda a sociedade. A Fipe prevê que o índice final de julho será um pouco menor do que os 4%. Agosto e setembro podem registrar altas entre 2% e 3%. São patamares ainda altos, que pesam contra a estabilização.
É como se existisse uma gangorra. De um lado, a credibilidade e a desindexação. De outro, a dúvida e a proteção dos reajustes automáticos. Uma inflação maior é por si só fator de nova alta nos preços. Quanto menor o índice, por sua vez, mais firme a tendência de ele cair. O gráfico acima mostra que o Brasil ainda está nessa gangorra.

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