São Paulo, sábado, 29 de julho de 1995
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Falta mais do que um ``p"

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Pego carona no texto de ontem de Josias de Souza, em que ele reclama da falta de um ``p" (de provisório) no novo imposto que o governo está prestes a tentar criar, supostamente para obter recursos para a saúde.
Desconfio que falta bem mais do que o ``p" reclamado por Josias. Para embasar tal conclusão, reporto-me a texto publicado no dia 3 passado pela revista ``Notícias", uma publicação cada vez mais preciosa editada pela Fiesp, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.
O subtítulo já diz quase tudo: ``Receita Federal estuda a volta do IPMF, com o nome de Antecipação sobre Transações Financeiras". O texto se baseava em informações dadas durante debate realizado na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, no dia 28 de junho.
Sempre segundo ``Notícias", a revelação sobre a tal de ATF fora feita ``por dois especialistas em tributação que participam dos estudos no Ministério da Fazenda, Augusto Jefferson de Oliveira Lemos e Otto Glasnot".
Há indícios, portanto, de que o governo vinha buscando meios de aumentar a sua receita antes mesmo de o ministro da Saúde, Adib Jatene, emplacar a sua proposta de uma contribuição financeira, nos mesmos moldes do imposto sobre o cheque, destinada exclusivamente à saúde.
O próprio governo, aliás, informa que o ``imposto do Jatene", como o batizou editorial desta Folha, não será todo do Jatene, mas poderá ter vários outros donos.
É curioso observar que, desde que teve a idéia de ``seu" imposto, Jatene usou sempre os mesmos argumentos. Mas até anteontem não conseguira sensibilizar seus colegas da área econômica.
Como explicar que, de repente, eles se curvem ao ministro da Saúde? Temem enfrentar uma situação idêntica à do ministro da Educação, Paulo Renato, ou seja, cair no bisturi de Jatene?
Se não for essa a explicação, então é provável que seja a que a revista da Fiesp antecipou faz quase um mês. A saúde seria apenas o pretexto para obter mais dinheiro.

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