São Paulo, domingo, 30 de julho de 1995
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Uruguaio crê que Brasil puxa para baixo

DO ENVIADO ESPECIAL A MONTEVIDÉU

Erramos: 12/12/95
País com apenas 3,1 milhões de habitantes, dos quais 1,4 milhão economicamente ativos, o Uruguai é o membro do Mercosul cujos trabalhadores mais têm a perder com a integração regional -ao menos em termos de direitos trabalhistas.
Com um sindicalismo forte, que não foi destruído nem mesmo durante o regime militar (mais duro no período entre 1973 e 1981), o Uruguai possui o maior percentual de trabalhadores com registro em carteira entre os quatro países.
Segundo o economista Luis Stolovich, do Ciedur (Centro Interdisciplinar de Estudos sobre o Desenvolvimento do Uruguai), a integração com países maiores como o Brasil e Argentina irá ``igualar para baixo as condições de trabalho e diminuir o nível de emprego no Uruguai".
Segundo ele, numa comparação com o Brasil, que possui a economia mais desenvolvida e competitiva do Mercosul, mas com níveis de vida e custos trabalhistas mais baixos, o Uruguai ``irá perder em condições de trabalho pela pressão reguladora do mercado que o mercado irá impor".
Um exemplo disso seria a queda da atividade industrial no país. De 1990 a 1993, o PIB industrial do Uruguai caiu 9,5% enquanto o volume físico de produção industrial caiu 11,2%.
Essa tendência deverá ser acentuada à medida que a integração se acelere. Entre 1989 e 1993 perderam-se 30% dos postos de trabalho na indústria.
Essa queda na oferta de trabalho ainda não se refletiu nos níveis históricos de desemprego (variando entre 8% e 9% nos últimos dez anos) devido a dois fatores: a emigração de mão-de-obra e o duplo ou triplo emprego dos trabalhadores melhor qualificados.
Com uma população economicamente ativa considerada velha para os padrões da América Latina, o Uruguai vive um quadro de falta de oferta de emprego para os jovens, que buscam um salário melhor em ocupações sem registro formal e, cada vez mais, na dupla ou tripla jornada.
A emigração ocorrida a partir da década de 70, quando mais de 300 mil pessoas (10% da população) deixaram o país em dez anos, compensou a queda na oferta de trabalho e impediu a derrocada do salário real.
Com um salário mínimo oficial de US$ 128, aproximadamente 65% da população ativa ganha entre US$ 600 e US$ 900, segundo o Ciedur. A exceção são os bancários, que recebem em média US$ 1.200 e são considerados a ``elite trabalhadora" do país.
No Uruguai, os funcionários dos bancos privados -todos grupos estrangeiros- são melhor remunerados do que os de bancos oficiais. O setor bancário é o que apresenta menor rotatividade de emprego no país.
Manoel Negro, secretário-geral da Aebu (Associação dos Empregados Bancários do Uruguai), teme que o Mercosul derrube o que os trabalhadores consideram uma de suas maiores conquistas: a estabilidade de emprego nos bancos privados.
Segundo ele, ``um bancário só pode ser demitido por justa causa e depois de passar por sindicância do sindicato".

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