São Paulo, domingo, 30 de julho de 1995
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Uso da nova fita vai de vaso sanguíneo artificial a avião

DA "NEW SCIENTIST"

A técnica de Stupp para fazer a película surpreendeu até o próprio. Todas as vezes que fez a película, nota que a superfície é hidrofóbica e o fundo hidrofílico, independentemente de quantas camadas havia.
Stupp acredita que isto se deve ao fato de pelo menos uma das partes externas da fita ser organizada como monocamada, com as cabeças de uma camada próximas das caudas da outra.
É isto que fez com que o nanotape seja tão útil. Com duas superfícies sempre diferentes -um lado hidrofílico e outro hidrofóbico-, pode ser usado para unir materiais diferentes, como uma fita durex, só que em escala microscópica.
Poderia, por exemplo, ser usado para revestir o interior de um vaso sanguíneo artificial de plástico.
O lado hidrofóbico ficaria grudado no plástico e o hidrofílico deixaria o sangue passar.
Stupp chegou a sugerir que a própria fita pudesse ser enrolada até formar minúsculos vasos sanguíneos e aí empregados em operações cardíacas.
O lado hidrofílico evitaria a formação de coágulos e o lado exterior hidrofóbico ficaria preso ao tecido muscular, prendendo o vaso sanguíneo artificial no lugar.
Stupp afirma ainda que o nanotape poderia ser usado para revestir os discos rígidos usados em computadores.
Esses discos giram a uma velocidade de cerca de 5.000 rotações por minuto, com a cabeça magnética de leitura e gravação muito próxima da superfície de óxido magnético que armazena os dados no disco rígido.
O problema é que, quando o disco pára de girar, a cabeça pode raspar contra ele e eliminar informações importantes, causando um estrago permanente.
Normalmente usa-se óleo para lubrificar o disco e prevenir estragos quando ele pára.
Mas, quando se faz isso, a camada de óleo aplicada deve ser bem fina para permitir que a cabeça do disco fique suficientemente próxima e possa ler a informação.
Entretanto, o óleo tende se acumular irregularmente, acabando por não cobrir as superfícies de forma homogênea.
Isto pode se tornar um grave problema à medida que o drive do disco rígido torna-se menor.
"O que realmente precisamos é de uma espécie de um sólido lubrificante para os discos rígidos", afirma Stupp. É aí que o nanotape pode ser aproveitado.
O nanotape poderia ser suficientemente fino para permitir que a cabeça magnética leia o disco.
Futuramente, o colante nanotape também poderia ser usado na produção de materiais "compostos", colando fibras a granulados para fabricar materiais mais leves e resistentes do que os existentes.
Tais compostos são usados, por exemplo, em aviões e carros. As diferentes partes são unidas por elos mecânicos.
Usando a fita como agente para ligar as partes, Stupp acredita que os materiais poderiam ainda ser mais resistentes e isto abriria um leque de novas aplicações: de satélites até submarinos.
Na opinião de Stupp, a composição química da fita poderia ser manipulada para assegurar que sua superfície tenha a propriedade correta para cada uso.
Ele espera criar uma estrutura de duas camadas em que ambos os lados da fita sejam ou hidrofílicos ou hidrofóbicos, em vez de uma fita em que um lado seja hidrofílico e o outro hidrofóbico.
Uma fita, com ambas as camadas iguais, poderia ser usada como um fino lubrificante entre duas partes de metais ou poderia formar elos entre diferentes materiais, com propriedades químicas semelhantes.
No momento, Stupp tenta fabricar esta fita usando grupos de ácidos carboxílicos em vez de fenol na cabeça hidrofílica.
Os grupos de ácidos carboxílicos gostam de formar pares e a fita deveria formar bicamadas mais rapidamente.
Após produzir películas com diferentes características químicas, Stupp planeja investigar como moldá-las em formas utilizáveis.
Uma maneira seria fazê-las crescer na presença do material a ser revestidos.
Outra seria a de passar as moléculas sobre um molde, polimerizar ambos e retirar ou dissolver o molde.
Com grupos quimicamente propícios nas moléculas, os filmes apresentam propriedades elétricas e óticas interessantes, levantando a possibilidade de até serem usados para a fabricação de dispositivos óticos e eletrônicos.
Simples de produzir, e com uma complexidade ínfima, o auto-organizador nanotape parece pronto a competir em termos de praticidade com sua parente longínqua, a fita durex.

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