São Paulo, domingo, 30 de julho de 1995
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Rainha Vitória era bastarda, diz pesquisa

OTÁVIO DIAS
DE LONDRES

Não bastam as dores de cabeça causadas pelas desventuras amorosas dos descendentes da rainha britânica. O longo e bem-sucedido reinado de Elizabeth 2ª está agora ameaçado pela conduta sexual de uma antepassada, sua tataravó, a princesa Victoire.
Segundo dois respeitados cientistas britânicos, é possível afirmar, com razoável chance de acerto, que a rainha Vitória (1819-1901), trisavó de Elizabeth 2ª, era filha ilegítima.
Se eles estiverem certos, a rainha Vitória não poderia ter ocupado o trono britânico de 1837 até sua morte, nos anos áureos do império e, em consequência, Elizabeth 2ª não seria, hoje, a soberana do Reino Unido.
A teoria foi desenvolvida após um estudo detalhado dos genes da rainha Vitória e de sua família, que levou dez anos.
A monarca tinha hemofilia, doença hereditária que impede a coagulação do sangue e pode levar à morte por hemorragia.
Só os homens manifestam a doença, mas as mulheres podem ser portadoras do gene da hemofilia e transmiti-lo a seus filhos.
A rainha Vitória passou o gene para um filho e duas filhas, que transmitiram a doença para as famílias reais da Rússia czarista e da Espanha. Na realeza britânica, a hemofilia não teve continuidade.
Segundo os pesquisadores, o enigma está no fato de que nenhum dos ancestrais da rainha na família real seria hemofílico ou portador da doença. Tampouco sua mãe teria parentes hemofílicos.
Só haveria, então, duas explicações para o fenômeno: o pai ou a mãe de Vitória teriam sofrido mutação genética, ou sua mãe teria tido uma relação extraconjugal com um hemofílico.
O livro ``O Gene da Rainha Vitória" (``Queen Victoria's Gene", ed. Alan Sutton, US$ 30) relata os resultados da pesquisa.
Seus autores são os irmãos William, 67, e Malcolm Potts, 60, respectivamente professores de zoologia na Universidade de Lancaster (Reino Unido) e de população e planejamento familiar na Universidade da Califórnia (EUA).
É a primeira vez que se publica uma obra sobre os casos de hemofilia na família real britânica, embora há mais de 70 anos existam estudos que mostram que nenhum dos antepassados da rainha Vitória era portador ou sofria da doença.
``A novidade é que, devido aos avanços da genética, podemos chegar hoje a uma conclusão definitiva sobre a questão", disse o professor William, em entrevista à Folha, em Lancaster.
``Se pudéssemos analisar raízes dos cabelos da rainha Vitória e de seu pai, o duque de Kent, poderíamos até provar, de uma vez por todas, sua legitimidade", afirma.
William Potts, que se diz monarquista -``prefiro nossos reis e rainhas aos terríveis políticos que vemos por aí"-, tem esperanças de que o livro ajude a localizar essas amostras. ``Muita gente colecionava amostras de cabelo na época. É bem possível que alguém tenha guardado uma da rainha Vitória ou de seu pai até hoje."
``Também podemos fazer testes com amostras de ossos, mas duvido que a rainha Elizabeth 2ª permita a exumação dos corpos de seus antepassados".
Segundo ele, não se pode descartar a possibilidade de ter havido mutação genética nos óvulos da mãe da rainha ou nos espermatozóides de seu pai. ``Mas estima-se que tal mutação ocorra na margem de uma entre 25 mil a uma entre 100 mil pessoas a cada geração", diz. ``É a mesma probabilidade de morrer fulminado por um raio."

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