São Paulo, domingo, 30 de julho de 1995
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O rei continua vestido

DALMO MAGNO DEFENSOR
ESPECIAL PARA O TV FOLHA

No lugar do Quinteto Onze e Meia, uma banda com metais, teclados e vocalistas. O convidado, quando anunciado por Jô Soares, não está na platéia, como qualquer ministro ou governador: vem dos bastidores. Para um ``rei", protocolo especial.
Roberto Carlos conta que começou aos 18 anos, na Boate Plaza, no Rio. Jô diz que também passou por lá, tocando bongô em ``jam sessions" de jazz, às segundas-feiras.
Alfinetada real: "era minha folga. Na indispensável passagem pela Jovem Guarda, Roberto admite ter namorado Vanderléa.
Fala da inesperada vitória no Festival de San Remo, com ``Canzone per Te". Canta ``Festa de Arromba", ``É Proibido Fumar", ``Lobo Mau", e ``O Calhambeque".
No segundo bloco, apanha o violão e faz uma interpretação meio atrapalhada -e muito bonita- de "Detalhes".
Pouco se fala da carreira pós-anos 70. Sintomaticamente, discutem-se as críticas à chamada auto-repetição de Roberto.
Jô não detalha, mas se diz que Roberto tem seguido uma ``receita de bolo", na qual entram canções de motel, hinos pararreligiosos e -mais recentemente- odes à diversidade feminina (gordinhas, baixinhas) e categorias profissionais (taxistas e caminhoneiros). O cantor argumenta que só satisfaria os críticos se mudasse de estilo, o que é impossível.
Jô faz Roberto discorrer sobre idiossincrasias: o hábito de falar com plantas, a aversão pela cor marrom e -santo desperdício de tempo- socorros prestados a um sapinho atropelado e uma libélula de asa quebrada.
Teria sido melhor saber sobre a inspiração de clássicos como "Detalhes", "O Portão" e "Fera Ferida"; a visão de Roberto sobre o progressivo abandono do rock e da imagem de rebelde, nos anos 70, quando trocou o ``você não gosta de mim, mas sua filha gosta" pelo ``você não gosta de mim, mas sua mãe gosta".
E, também, como ele e Erasmo Carlos conciliaram personalidades aparentemente tão diversas na mais célebre e fértil parceria da MPB.
Exemplificando: à timidez e correção de Roberto, Erasmo contrapõe uma despachada franqueza.
Inquirido por Amaury Jr., no ``Flash", sobre a possibilidade de um ``revival" comemorativo dos 30 anos da Jovem Guarda, Erasmo foi contra. Afirmou que prefere as boas recordações, e justificou-se com algo assim: ``Tem muito cara daquela época que está afastado, virou fazendeiro e tal. Organizam um show, ele é chamado e aparece cantando aquela coisinha, daquele jeito. Aí teu filho assiste, e vem te cobrar. `Pai, a Jovem Guarda era essa merda?'."
Não era, a dupla pode provar. Talvez também possam mostrar, aos implicantes, que a atual imagem de brega esconde muita coisa boa. Uma saída: A Globo liberar Roberto para o despojado "Ensaio, da Cultura. ``A fé não costuma faiá", já dizia o Gil.

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