São Paulo, segunda-feira, 31 de julho de 1995
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Brigando pela sede do consumidor

HELCIO EMERICH

Até há alguns anos, as águas minerais tinham a única e prosaica finalidade de matar a sede das pessoas, com a promessa de mais higiene e pureza do que a água de torneira. Mas de acordo com uma recente matéria do ``The Wall Street Journal", o aparecimento nos EUA de uma nova geração de bebidas que, além de cumprir idêntica função promete mais saúde aos consumidores, está começando a empurrar os distribuidores de águas engarrafadas para o lado mais escuro do mercado americano.
Sucos e refrigerante ``aditivados" com vitaminas e minerais acenam com benefícios que vão desde o fortalecimento dos ossos e músculos ou a queima de gorduras até a proteção contra doenças alérgicas. Alguma dessas novas bebidas, rotuladas de ``innovative beverages", exageram ao ponto de prometer ajuda no combate ao câncer e às moléstias cardíacas, sem contar aquelas que garantem aparência mais jovial e mais sexy.
Elas foram introduzidas nos EUA por gigantes como a Pepsi e a Coca, mas logo surgiram dezenas de marcas concorrentes criadas por pequenas engarrafadoras regionais. São produtos que tentam pegar uma carona na moda dos ``sport drinks", as bebidas que lançaram o conceito da reposição de energia e que têm no Gatorade o exemplo de maior sucesso.
A Mo'Betta, por exemplo, garante que os antioxidantes e o betacaroteno incluídos na sua fórmula ``rejuvenescem as células cansadas do organismo". A Vita-J anuncia que o seu drinque carbonatado ``restaura a vitalidade da pele e dos cabelos", enquanto a R.J. Corr jura que a sua ginseng-soda, com uma dose de crômio, controla o nível de açúcar no sangue e ``pode ser associada a uma vida mais longa".
A maneira espalhafatosa com que a propaganda se utiliza dessas promessas acabou provocando a reação dos engarrafadores de água mineral, que trataram de acionar a FDA (Food & Drug Administration). Eles querem que o governo estabeleça limites para a apelação. Argumentam que as ``functional beverages" não passam de versões pseudocientíficas dos antigos elixires da juventude que iludiam a boa fé dos consumidores americanos no início do século.
A prova disso estaria no fato de que alguns dos novos drinques posicionados como ``repositores de energia" não contêm nem a milésima parte da dose diária de vitaminas ou de betacaroteno recomendada pelas autoridades de saúde dos EUA.
Os distribuidores de água mineral protestaram também junto à American Association of Advertising Agencies alegando que os hiperbólicos apelos dos seus novos concorrentes causam, a longo prazo, uma erosão na credibilidade que o público deve esperar da propaganda. Esqueça o pretexto da moral e da ética: é só mais uma briga no milionário negócio dos ``soft drinks" dos EUA, que movimenta US$ 50 bilhões por ano e onde um ponto a mais ou a menos de participação no mercado pode representar lucros ou perdas de milhões de dólares.

Comunicologia
Em meio a tanta mediocridade e a tanta poluição visual na propaganda ao ar livre em São Paulo, é ótimo ver uma campanha como a da Vinólia, uma aula de elegância e de boa técnica na utilização dos espaços do outdoor.

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