São Paulo, segunda-feira, 31 de julho de 1995
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O Banespa baiano

LUÍS NASSIF

De certa forma, o caso Econômico tem muito a ver com o Banespa. Embora sua história lembre, de perto, o que ocorreu na década passada com o mais tradicional dos bancos paulistas -o Comércio e Indústria de São Paulo.
Assim como o paulista, o Econômico era uma instituição centenária, uma das primeiras e mais antigas sociedades anônimas criadas no país. Nos dois casos, seu poder foi assumido por acionistas que detinham parcela minoritária do capital -Carlos Eduardo Quartim Barbosa, no Comind e Ângelo Calmon de Sá, no Econômico.
Com o controle da companhia e submetidos a uma legislação societária, frouxa, ambos passaram a utilizar os recursos da companhia para consolidar sua posição acionária. Adquiriram posições de terceiros ou barganharam, pendurando acionistas na empresa em troca de seu apoio acionário.
Como resultado, ambas as instituições se descapitalizaram e não conseguiram profissionalizar suas gestões.
O Comind estourou em 1985, quando o então presidente do Banco Central (BC), Fernão Bracher, decidiu romper com o pacto de impunidade que marcava a atuação do BC desde o caso Halles, no início do governo Geisel.
O Econômico continuou enfrentando seus problemas.
No início do ano, o então presidente do BC, Pérsio Arida, chamou Ângelo Calmon de Sá e intimou-o: ou capitalizava o banco em US$ 600 milhões, ou haveria uma intervenção semelhante à do Meridional.
Nesse momento, entrou na parada o senador Antônio Carlos Magalhães, sustentando que era questão de honra para a Bahia uma solução interna para o Econômico.
A fórmula apresentada foi convencer empresas do pólo petroquímico baiano a adquirirem o banco usando uma fórmula extravagante. A Odebrecht aportaria seu capital com títulos de crédito que tem a receber da União.
Aberta a exceção, o BC criará dois precedentes fatais. O primeiro, permitir que todo credor do governo recorra ao princípio constitucional da isonomia para receber tratamento semelhante. O segundo, permitir a todo banco estadual em dificuldade receber socorro semelhante.
O próprio BC sustentou que não pode abrir exceção para o Banespa, porque pela porta aberta entrariam todos os demais bancos estaduais. No caso Econômico, o dilema é o mesmo: entrariam não só todos os demais bancos, como o próprio Banespa.
A única saída visível é a intervenção, recuperação e privatização de ambos -tanto o Banespa como o Econômico.

Renault
A decisão da Renault de montar fábrica no Brasil deveria ter sido saudada como manchete principal de todos os jornais e com marcha batida e Hino Nacional na ``Voz do Brasil".
Alguns anos atrás, a indústria automobilística brasileira estava ameaçada de ser riscada do mapa mundial. Uma abertura responsável, mais o esforço de coordenação das câmaras setoriais por um grupo competente de técnicos, a boa vontade de líderes empresariais e sindicais e uma visão correta de política industrial levam à entrada da primeira grande montadora nos últimos 20 anos.
É inacreditável a insensibilidade da mídia para não se dar conta desse momento histórico e para minimizar os fatores essenciais de produção.
É isto que muda o país, não essas políticas monetárias rotas e dissociadas da realidade.

Laurindo
No dia em que a música popular brasileira ocupar economicamente o lugar que já ocupa artisticamente no cenário internacional, será levantada uma estátua em homenagem ao violonista santista Laurindo de Almeida -falecido na semana passada- radicado em uma cidadezinha da Califórnia desde o início dos anos 50.
Sem ser um virtuose como Baden ou um revolucionário como Garoto, sem dispor da agilidade fantástica de José Menezes, Laurindo foi o instrumentista que primeiro apresentou ao mercado internacional aquela que viria a ser a mais reputada escola violonista da atualidade.

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