São Paulo, segunda-feira, 31 de julho de 1995
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Gismonti sai em versão remasterizada

SYLVIA COLOMBO
DA REDAÇÃO

``Sou o guardião da cultura brasileira." Popular ou erudita, a música do compositor, violonista, arranjador e pianista carioca Egberto Gismonti é antes de tudo marcada pela busca da grandeza.
Um quinto de sua obra chega às lojas hoje. São 10 CDs, gravados entre 1977 e 1993, que estão sendo lançados pela BMG-Ariola em versão remasterizada.
Nos seus 25 anos de carreira, Egberto gravou mais de 50 discos. Tem contrato com a gravadora norueguesa ECM, acaba de tocar com a Orquestra da Lituânia e prepara para este segundo semestre uma megaturnê nacional com a Orquestra Sinfônica de Curitiba, que começa no próximo dia 4 de agosto, em Brasília e termina em dezembro com apresentações no Rio e em São Paulo.
O pacote é uma boa amostragem do trabalho de Gismonti. Traz obras solo, com amigos brasileiros e com músicos americanos. Brasilidade e ecologia são temas constantes.
Gismonti não tira o olho da História. ``Ela está sempre nas minhas interpretações, a música de Egberto Gismonti salta aos olhos como a história do Brasil." Para ele, a cultura brasileira começou com a vinda do Padre Vieira ao Brasil, no século 17.
O lançamento inclui três discos gravados com sua atual banda, com Zeca Assumpção e Nando Carneiro. Em ``Infância", Egberto faz um retrato musical nostálgico, fundindo experiências pessoais com ritmos folclóricos brasileiros.
``Sol da Meia Noite" (78) é o mais ``ecológico" dos seus discos. Gravado em homenagem ao índio xingu Sapain, traça a saga de uma aldeia através da música, passando pela sua construção, seus rituais e o incêndio na mata.
``Solo" (1979) é uma viagem pela Amazônia. ``Fui picado pelo `insectus brasilienses' e levo esta paixão para todo lugar". É por isso, diz ele, que conseguiu penetrar na selva enquanto grava seu disco em Oslo, capital da Noruega.
No seu trabalho solo ``Dança dos Escravos" (1988), Gismonti resgata temas como o da memória, da negritude e do sertanejo.
``Música de Sobrevivência", lançado em 93, é considerado um de seus melhores trabalhos, em que o violoncelo de Jacques Morelenbaum tem especial envolvimento nos arranjos.
Apesar dos temas amplos e engajados, Gismonti diz que na verdade está sempre falando de si mesmo. ``Minha vida é um álbum sonoro, enquanto as pessoas colecionam fotografias ou cartas, eu coleciono os meus momentos de criação musical."
Sobre o panorama da música instrumental no Brasil, Gismonti acha que não é preciso se preocupar com o tamanho do mercado. ``O Brasil é tão rico musicalmente que pode se dar ao luxo de não ver tudo. E não vê, a grosso modo, a riqueza da música instrumental."
Por isso mesmo não se incomoda por ter feito sucesso lá fora primeiro e de ter contrato com uma gravadora norueguesa.
Se sua brasilidade é uma filosofia pessoal assumida, seu gênero ainda não pôde ser apreendido. ``Ninguém me define direito", reclama. Egberto ganhou prêmios contraditórios em sua carreira. ``Dança das Cabeças" (1977) foi premiado nos EUA como melhor disco pop, na Alemanha é rotulado como erudito. ``No Brasil, já fui rotulado como folclórico."

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