São Paulo, segunda-feira, 31 de julho de 1995
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Brasil x Botsuana

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - O Brasil não é um país subdesenvolvido. De acordo com recentes declarações presidenciais, o país é apenas injusto. Deve-se concluir, então, que subdesenvolvido é o governo. Age exatamente como um novo-rico. Procurando uma analogia, diria que o governo faz o gênero das peruas -e isso nada tem a ver com a visita de FHC ao Peru.
Não sou entendido em estatísticas, quando vejo qualquer algarismo ao lado daquele sinal diabólico (%) passo adiante, evitando o confronto. Mas tudo pode acontecer -diria Machado de Assis. Li a também recente lista de uma entidade internacional e fiquei sabendo o que suspeitava: o Brasil é campeão na desigualdade social, absoluto primeiro lugar no ranking internacional.
O mundo ainda não viu nada. As últimas medidas tomadas pela equipe econômica, principalmente a desindexação solitária dos salários, estão jogando a classe média para o fundo do poço.
Dez por cento da nossa população detêm mais de 50% da riqueza nacional. É muita gente para pouca riqueza. Pensando bem, o Brasil não merece ter 15 milhões de cucarachos -aqueles caras que quando iam ao Primeiro Mundo acendiam charutos com notas de cem dólares. Sete milhões e meio de peruas também é exagerado, não temos mulherio suficiente para tantas bolsas chanel, nem haverá estoque de perfume ``Poison" que abasteça tamanho consumo.
O prometido reinado de 20 anos do PSDB é uma garantia de que ocuparemos a ``pole position" da injustiça social por muito tempo ainda. Não haverá necessidade de prorrogação nem de reeleição para garantirmos tal liderança. Parece que nosso mais sério rival é Botsuana, país que nem sei exatamente onde fica. Foi colônia britânica até há bem pouco tempo. A população é pequena, mas dá para ter um ou dois times de futebol.
Não conheço em detalhes a situação econômica daquele país. Mas se a seleção do Zagallo perdesse para Botsuana -o Brasil vinha abaixo. O neoliberalismo do nosso governo é uma garantia de que jamais passaremos por esse vexame.

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