São Paulo, terça-feira, 1 de agosto de 1995
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Abertura do mercado atrai grandes grupos

ELVIRA LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL

Com a quebra iminente do monopólio estatal das telecomunicações, empresas de várias partes do mundo chegam ao país prometendo novas tecnologias e serviços.
Mas que mudanças o brasileiro pode esperar e com que velocidade elas ocorrerão?
Na verdade, a revolução está em andamento. Ela começou em 1990, com o fim da reserva de mercado para as indústrias de equipamentos de telecomunicação instaladas no país e com as permissões para implantação de TVs a cabo e outros serviços que não integram o monopólio.
Nos últimos quatro anos, foram dadas centenas de concessões para "paging" (serviço eletrônico de mensagens que substituiu os antigos bips) e "trunking" (telefonia celular para comunicação interna de empresas).
No mês passado, a AT&T, maior empresa de telecomunicação do mundo, com faturamento anual de US$ 75 bilhões, associou-se ao grupo Itamarati e à Splice do Brasil para criar uma empresa nacional de paging.
Uma semana depois, a Globo associou-se ao magnata mundial das comunicações, Rupert Murdoch, para explorar a transmissão de TV direta por satélite na América Latina, enquanto a Comcast, terceira maior empresa de TV a cabo dos Estados Unidos, juntou-se à carioca MCom para explorar o trunking em São Paulo.
A Bell Canadá Enterprise -principal grupo empresarial canadense, com faturamento anual de US$ 20 bilhões- entrou no negócio de TV a cabo em São Paulo.
O grupo -que entre outras empresas, controla a Northern Telecom- comprou 51% das ações da Canbras, acionista majoritária em nove concessões de TV a cabo na Grande São Paulo e litoral paulista, em parceria com o grupo Abril.
Estas associações são uma amostra do que acontecerá no mercado. Capitais do mundo inteiro querem participar do novo filão de negócios que se abre no Brasil e que está levando as grandes empresas brasileiras a reverem suas estratégias de ação para o futuro.
O Brasil é apontado como um dos maiores mercados para investimento em telecomunicação: 80,95% das residências, 46,7% dos estabelecimentos de negócios e 98% das propriedades rurais não têm telefone.
Com cerca de 12 milhões de aparelhos instalados, a densidade de telefones é de sete por cem habitantes, o que coloca o país na 42ª posição no ranking mundial.
Segundo dados do Sistema Telebrás, a fila de espera para a compra de telefone celular é de 1,5 milhão de pessoas em todo o país. Além disso, há um mercado praticamente virgem a ser explorado para TV por assinatura.
Os capitais estão chegando interessados também em fabricar equipamentos no país.
Em entrevista à Folha, o diretor da Motorola, Flávio Grynszpan, disse que a empresa já comunicou ao governo que vai construir fábricas de telefones celulares e de pagers (bips eletrônicos) no país.
A Qualcomm norte-americana, dona da tecnologia CDMA para telefonia celular digital, também decidiu fabricar no Brasil. "Estamos procurando terreno para construir uma fábrica em São Paulo", disse Rafael Steinhauser, diretor da empresa para a América do Sul.
Nenhuma empresa brasileira tem condição de entrar sozinha no mercado. Para financiar seus projetos, elas buscam sócios e empréstimos no exterior.
A Globo vai captar US$ 300 milhões na Europa para financiar seus projetos de TV a cabo. É mais dinheiro do que os US$ 250 milhões que a Volkswagen irá investir em sua nova fábrica no Estado do Rio.
O primeiro impacto da quebra do monopólio será a abertura do mercado de telefonia celular e da transmissão de dados para a competição privada.
Para aprovar a emenda constitucional que porá fim ao monopólio, o Congresso impôs a criação de uma lei -que irá regulamentar os serviços privados e criar um órgão regulador do mercado.
Na segunda quinzena de agosto ocorrerá a segunda votação da emenda no Senado. Como a emenda teve aprovação de 348 dos 513 deputados e de 62 dos 81 senadores, a expectativa é de que ela seja aprovada sem alterações e entre em vigor imediatamente.
A partir daí, começará a discussão da lei. O ministro das Comunicações, Sérgio Motta, já anunciou que encaminhará logo um projeto de lei ao Congresso.
A previsão dos empresários é de que a lei seja aprovada no final do ano, quando começariam a ser feitos os editais de licitação.
Enquanto isso, o Ministério das Comunicações vai divulgar um pacote de medidas para regulamentar as concessões dos serviços que não dependem do monopólio, como o uso de satélites e TVs pagas.

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