São Paulo, terça-feira, 1 de agosto de 1995
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Começa em SP novo tratamento contra Aids

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Roberto, 35, portador do vírus da Aids há cinco anos, tornou-se ontem o primeiro latino-americano a doar sangue para um doente de Aids. A terapia consiste na transfusão de anticorpos de um portador sadio para um doente. O primeiro programa de imunoterapia passiva foi inaugurado ontem pela Fundação Pró-Sangue Hemocentro de São Paulo, que funciona no prédio do Hospital das Clínicas.
Roberto não quis dar seu nome completo. Durante 40 minutos, um aparelho retirou 600 ml de seu sangue, separou o plasma -a parte coagulável do sangue- e devolveu ao organismo os outros componentes.
Por meio do calor, um aparelho eliminará o HIV presente no plasma. Ficarão apenas os anticorpos que mais tarde serão transfundidos para um paciente que já manifestou sintomas da Aids.
``A imunoterapia não cura, mas a resistência a infecções aumenta pelo menos três vezes", diz o professor Dalton Chamone, diretor presidente da Fundação Pró-Sangue e criador do programa.
Na inauguração estavam o ministro Adib Jatene e representantes de todas as áreas da Saúde do Estado e da prefeitura. O convidado principal foi o professor Abraham Karpas, da Universidade de Cambridge, na Inglaterra.
Há dez anos, Karpas vem estudando a imunoterapia passiva. Seu programa mantém hoje cerca de 50 doadores e 50 receptores.
Segundo seus estudos, a terapia vem se mostrando eficiente em doentes e pré-doentes -pacientes que estão com baixa imunidade e que em breve manifestarão sintomas da doença. Karpas disse que a imunoterapia tem se mostrado mais eficiente que o AZT. ``Nos tratamentos longos, a eficiência das drogas se reduz enquanto aumentam os efeitos colaterais."
Segundo ele, o Hemocentro de São Paulo pode ser um dos primeiros serviços do mundo a empregar a imunoglobulina na terapia. Em lugar de armazenar plasma congelado, estocaria globulina, anticorpo que se conserva em temperaturas normais.
Chamone disse que a imunoterapia é trabalhosa, mas não cara. Entre as 20 mil doações de sangue que o Hemocentro recebe por mês, cerca de 70 estão contaminadas pelo HIV. Esse plasma com anticorpos ajudará a formar o estoque necessário para o programa.
Receptores e doadores terão que saber a contagem dos seus linfócitos de defesa. Acima de 400 CD-4 (linfócitos de defesa) por milímetro cúbico, o portador pode doar. Abaixo, deve receber.
``Essa contagem regular necessita de centros com laboratórios, que montaremos até setembro", diz Paulo Roberto Teixeira, diretor do programa de Aids no Estado. Hemocentros de outras capitais também instalarão programas a partir da experiência de São Paulo.

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