São Paulo, terça-feira, 1 de agosto de 1995
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Secretaria investiga mortes em hospital

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma comissão de sindicância da Secretaria de Estado da Saúde começou ontem a investigar denúncias de mortes ocorridas no Hospital de Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo.
Na semana passada, o médico Ronaldo Fiore, 36, encaminhou ao Ministério Público informações sobre 14 mortes que, segundo seu relato, foram provocadas por falta de controles médicos ou falha na estrutura hospitalar.
``Ele fez uma denúncia qualificada, citando nomes de médicos e pacientes", disse o secretário José da Silva Guedes. ``As investigações serão rigorosas."
Fiore trabalha há oito anos no hospital. No documento encaminhado ao Ministério Público, ele diz que nos últimos dois anos ``mais de duas centenas de pacientes morreram devido a falhas na estrutura hospitalar".
O Conselho Regional de Medicina, que recebeu cópia do documento, já abriu uma sindicância.
Ontem, Ronaldo Fiore informou que pedirá demissão do hospital. ``Pela reação dos colegas e da diretoria, não vejo condições de continuar meu trabalho."
Uma manifestação marcada para hoje diante do hospital também foi cancelada. Segundo Fiore, alguns funcionários estariam dispostos a informar sobre as ``precárias condições de trabalho" no Ferraz de Vasconcelos. ``Eles correm o risco de ser punidos", afirmou.
Tanto a secretaria quanto a direção do hospital alegaram que o médico não deveria ter esperado tanto tempo para encaminhar as denúncias.
``A diretoria do hospital tem acesso ao livro de ocorrências dos médicos e sabia o que vinha acontecendo", disse Fiore.
Ele corre o risco de ser denunciado por ter faltado com a ética ao divulgar nomes de pacientes e médicos e relatar dados dos prontuários.
``Eu estou denunciando crimes e eles preferem falar em ética médica", disse.
Entre as denúncias está o caso de M.V.R, internado em 5 de junho passado com distúrbios psiquiátricos. Ele teria ficado numa sala improvisada e, sem tratamento e observação necessários, caiu da cama e sofreu traumatismo craniano, morrendo três dias depois.
O corpo não foi encaminhado ao Instituto Médico Legal.
M.F.S., 52, deu entrada no hospital com quadro de diabetes descompensada no dia 19 de agosto do ano passado. Nos três dias seguintes nenhuma dosagem de glicemia foi realizada. Não foi removida para a UTI quando deveria, morrendo em 1º de setembro.
(AB)

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