São Paulo, terça-feira, 1 de agosto de 1995
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Salzburgo festeja 75 anos com Strauss

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DO ENVIADO ESPECIAL A SALZBURGO

O Festival de Salzburgo viveu anteontem sua ocasião mais solene. A estréia da montagem da ópera ``O Cavaleiro da Rosa", do compositor alemão Richard Strauss, foi motivo para a comemoração dos 75 anos do evento.
A alta elite européia presente no espetáculo (na última hora, um ingresso custava US$ 350) aplaudiu freneticamente a soprano norte-americana Cheryl Studer, a princesa da ópera, e o maestro norte-americano Lorin Maazel, diretor musical da montagem, há duas décadas afastado do festival. O alemão Herbert Wernicke recebeu vaias por sua direção cênica.
Wernicke, dado a extravagâncias, povoou o enorme palco do Grossesfespielhaus, maior teatro do evento, com capacidade para 3 mil pessoas, de cenários espelhados. Trocou os figurinos setecentistas tradicionais da ópera por indumentária contemporânea. Mas tudo soou superficial.
``Tento restaurar a idéia original do diretor Alfred Roller, que seguiu as indicações do libretista, Hugo von Hofmannsthal", disse Wernicke à Folha antes da vaia, durante o ensaio final. ``O espelhamento infinito e a multiplicação de imagens refletem a fragmentação da música da ópera."
``O Cavaleiro da Rosa" é a realização máxima da banalidade. Strauss traduz a música densa e cromática de ``O Crepúsculo dos Deuses" para o ambiente inofensivo de Viena de um 1740 impossível, já que povoado de valsas (a valsa surgiria no século seguinte), dissonâncias e sequências tão grotescas que só encontram comparação em trilhas de pastelão.
Mas ``O Cavaleiro da Rosa"'é um ponto de honra no festival. Embora tenha estreado em Dresden em 1911, a ópera virou símbolo de Salzburgo desde a montagem de estréia na cidade, em 1929. Strauss e Hofmannsthal fundaram o festival e lhe deram as primeiras diretrizes musicais.
A parte musical teve mais sorte. Maazel regeu a Orquestra Filarmônica de Viena com energia e bom humor. Os músicos realizaram a banalidade com grande talento, se isso é possível. Os cantores também. Cheryl Studer se comporta como diva. A melhor da noite foi a soprano irlandesa Ann Murray, como Otaviano. Ela soube tirar proveito do papel: a cantora vive um homem que se traveste de mulher e é assediado durante a ópera por um barão.
(LAG)

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