São Paulo, terça-feira, 1 de agosto de 1995
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Para quebrar tabus

Os juros podem cair mais. O início do processo, na semana passada, teve o mérito de mostrar ao Banco Central que o mercado pode absorver bem uma mudança que se tornara tabu para as autoridades.
Juros altos pareciam um martírio inevitável em se tratando de planos de estabilização. Afigurava-se aterrador, para o BC, o risco de uma fuga de capitais em resposta a uma queda precipitada dos juros.
Ontem, primeiro dia de juros um pouco menores em meses, não houve reações alarmantes nem alarmadas. Ao contrário, os mercados futuros ontem foram até mais realistas que o rei, sinalizando quedas futuras nas taxas de juros e apostando numa queda progressiva dos índices inflacionários.
Os juros podem, portanto, cair mais. Há motivos bem concretos para essas projeções. Em primeiro lugar, mais uma vez, está a agricultura. O inverno tem sido muito pouco rigoroso, facilitando as condições de engorda do gado na entressafra e, portanto, autorizando previsões mais tranquilas para o preço da carne nas próximas semanas. Trata-se de um preço-chave, pois tem grande peso nos índices de preços, como o da Fipe-USP, que em última análise balizam as negociações salariais.
O inverno ameno teve ainda outro efeito positivo, do ponto de vista das tendências inflacionárias. Item também muito influente nos índices, o vestuário vem exibindo uma trajetória tranquila e assim deve continuar, com a antecipação das liquidações de inverno.
Se as projeções inflacionárias autorizam maior otimismo, os resultados da política atual em termos de desaquecimento econômico e aumento do desemprego tornam ainda mais urgente uma política ativa de redução dos juros reais. Segundo dados da Fiesp, na última semana afinal se anulou todo o ganho obtido em termos de volume de contratações ao longo de 1995.
Os tabus são a expressão de medos ancestrais. Quebrá-los é obrigação de quem tem responsabilidade não com os mortos, mas com os vivos e os que estão por vir.

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