São Paulo, terça-feira, 1 de agosto de 1995
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O efeito estufa

Temperaturas recordes registradas neste verão no hemisfério Norte já mataram centenas de pessoas. O inverno no Sul está sendo bastante ameno. O aquecimento observado na Rússia gerou um problema inusitado: cobras venenosas chegaram a migrar para o Ártico russo, algo que jamais havia ocorrido pois os ofídios são animais pecilotérmicos. Na normalmente gélida península de Kola não havia soro antiofídico para atender às vítimas.
Cientistas britânicos prevêem que 1995 será o ano mais quente desde que os registros de temperatura foram iniciados, há um século. Esse quadro recoloca em discussão o chamado efeito estufa, ou seja, o aquecimento gradual da temperatura provocado, principalmente, pela queima de combustíveis fósseis.
É consenso entre os cientistas que o efeito estufa existe. O CO2 emitido pela queima de combustíveis vai para a atmosfera e permite que o calor chegue à terra. Mas parte desse calor deveria voltar para o espaço como radiação infravermelha. O CO2 impede o processo.
O que está longe de ser consenso são as consequências do efeito estufa. Há desde os que prevêem catástrofes como o derretimento das calotas polares e a consequente elevação dos níveis dos mares que poderiam inundar cidades costeiras e arquipélagos até aqueles que dizem que a natureza encontra meios de controlar esse processo.
Citam, por exemplo, a terra primitiva, quando a atividade vulcânica era bem mais intensa e muito gás carbônico era expelido. O contra-argumento é engenhoso: apesar dos níveis de CO2 expelidos, a fuligem emitida impedia a entrada dos raios solares, provocando, assim, um resfriamento da temperatura.
A ciência nada tem de neutra. Interesses econômicos estão por trás de todas as teorias. O desejo dos países do Oriente Médio de manter o petróleo como principal combustível é notório. A China não quer abrir mão de suas gigantescas reservas de carvão. Os EUA, sozinhos, respondem por 25% das emissões de CO2. Não querem paralisar a sua frota.
Diante de tantas incógnitas e suspeitas, a cautela recomenda, mantendo sempre uma posição de equilíbrio, não fazer ouvidos moucos aos alertas dos catastrofistas. O homem não tem o direito de destruir o planeta em que seus filhos estão condenados a habitar.

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