São Paulo, terça-feira, 1 de agosto de 1995
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Articulação articulada

A tibieza ideológica dos partidos políticos brasileiros é um dos fatores que transformaram o Congresso num verdadeiro mercado persa, no qual cada votação de interesse do governo é negociada no melhor estilo dos famosos vendilhões. E não é raro que alguns votos custem fortunas aos cofres públicos ou ajudem a perpetuar a inoperância estatal com a nomeação política de incompetentes para postos que exigiriam conhecimento técnico.
Em meio a esse vácuo de posições ideológicas, destaca-se o Partido dos Trabalhadores. É preciso reconhecê-lo: trata-se da legenda política brasileira que mais se preocupa em atuar de acordo com propostas previamente discutidas -goste-se delas ou não- e em torno de ideais políticos claramente definidos -aprovem-se-os ou não.
Assim, a vitória da corrente de centro do PT -a Articulação- nas eleições para a Executiva do Estado de São Paulo é uma boa notícia.
Perderam espaço na Executiva estadual e devem perder na nacional as correntes de esquerda e extrema esquerda. São grupos fossilizados que ainda defendem as teorias foquistas (criar núcleos guerrilheiros para acelerar o ``inexorável" processo revolucionário de orientação marxista), ministram ``cursos de revolução" e sofrem estranhas convulsões quando ouvem palavras como ``privatização" ou ``fim de monopólios estatais".
Esses núcleos, embora minoritários no partido, haviam conseguido conquistar, a partir de 1993, por meio de uma militância extremamente aguerrida, um grande espaço -desproporcional até- nas Executivas do Estado de São Paulo e nacional do partido.
Agora, espera-se, o Partido dos Trabalhadores dará mais espaço para a sua ala pensante e não a jurássica. Na condição de mais ideológica das agremiações políticas brasileiras, o PT tem a grande responsabilidade de transformar-se num partido de oposição que proponha soluções para o país. Já é hora de pôr um fim às reações reflexas de apenas dizer ``não". Nenhuma democracia prescinde de uma oposição séria e com propostas viáveis. Talvez a partir de agora o PT possa desempenhar esse papel.

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