São Paulo, quinta-feira, 3 de agosto de 1995
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Jatene agora busca apoio da esquerda

AZIZ FILHO

AZIZ FILHO; RITA FERNANDES
DA SUCURSAL DO RIO

O ministro da Saúde, Adib Jatene, espera ter o apoio de deputados de esquerda na aprovação da CMF (Contribuição sobre Movimentação Financeira), compensando eventuais votos contrários de deputados da base governista.
Jatene disse no Rio que ``a esquerda já está convencida" da necessidade da criação da CMF, que arrecadaria 0,25% sobre qualquer movimentação bancária.
O ministro afirmou ontem que a não-aprovação da CMF vai ``desintegrar o sistema" da saúde no país, durante uma reunião com dirigentes da FGV (Fundação Getúlio Vargas), que vai auxiliar o governo na reforma administrativa do Ministério da Saúde.
O novo imposto é criticado por líderes dos partidos de sustentação do governo no Congresso Nacional, mas o PT, maior partido da oposição, admite apoiar a proposta com algumas condições.
O deputado Jaques Wagner (BA), líder do PT na Câmara, disse que o partido pode apoiar a CMF, desde que ela seja vinculado a áreas como saúde e educação e discutida como item da reforma tributária, e não isoladamente.
O líder do PDT na Câmara, deputado Miro Teixeira (RJ), afirmou que não seria ``problemático" para a oposição aprovar uma vinculação orçamentária para a saúde, mas que a criação de um novo imposto é ``problemática".
``A CMF só tem possibilidade de exame por causa do autor: todo mundo gosta do Jatene. Mas o governo é que deveria se mexer para dar as verbas que ele diz necessitar", declarou Miro.
Jatene disse ontem ter certeza da aprovação da CMF. ``O presidente e toda a área econômica estão apoiando. Acredito na palavra do presidente, do ministro Malan e do ministro Serra", afirmou, durante a inauguração da biblioteca da Fundação Oswaldo Cruz, em Manguinhos (zona norte do Rio).
O ministro acusou a imprensa de dar um tratamento injusto ao setor de saúde. ``Há uma campanha orquestrada no sentido de desprestigiar o setor. Não vai acontecer, porque a verdade é uma coisa que sempre aparece", disse.
Na Fundação Getúlio Vargas, o ministro disse que o imposto não vai atingir a população de baixa renda, o setor que mais utiliza a rede pública de saúde. ``Quem ganha R$ 400 por mês pagaria R$ 1. O valor é baixo", disse ele.
Ao dizer que ``a esquerda está convencida", o ministro citou dados sobre a concentração de renda no país, divulgados pelo último relatório do Banco Mundial.
Segundo o relatório, o Brasil é o país que tem a maior concentração da riqueza no mundo: os 10% mais ricos da população possuem 51,3% da renda nacional.

Colaborou RITA FERNANDES, free-lance para a Folha

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