São Paulo, quinta-feira, 3 de agosto de 1995
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Compulsórios retiram da economia quase R$ 50 bi

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

O total de dinheiro recolhido aos cofres do Banco Central por meio de compulsórios sobre operações bancárias chega a cerca de R$ 50 bilhões.
É mais ou menos 10% de toda a riqueza que o país produz anualmente (o PIB, Produto Interno Bruto) e a razão principal da enorme asfixia creditícia.
O último dado disponível no BC refere-se a dezembro de 1994. Nesta data, os recolhimentos obrigatórios atingiam R$ 47 bilhões.
``Agora, não deve estar muito distante dessa cifra", disse ontem à Folha o diretor da Área Externa do BC, Gustavo Franco.
O compulsório acaba sendo determinante para uma taxa de juros que o próprio presidente da República chegou a considerar ``escorchante".
Maurício Schulman, presidente da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos), lembra que o compulsório influi sobre os juros de duas maneiras:
1 - Como retira moeda do mercado, sobe o custo do dinheiro.
2 - Parte desses compulsórios nada rende para os bancos (``83% é de graça", contabiliza Schulman) e a outra parte rende pouco. Logo, os juros precisam subir para equilibrar a pouca ou nula remuneração da maior parte do dinheiro com que os bancos operam.
``Chegou um momento em que um banco que operasse só com CDBs (Certificados de Depósitos Bancários) precisava captar R$ 169 para ficar com R$ 100. Os R$ 69 restantes eram o compulsório."
O governo reconheceu, em junho, que os compulsório estavam sufocando demais a economia e reduziu a porcentagem recolhida sobre empréstimos ao setor privado, de 15% para 12% primeiro e, logo depois, para 10%.
A medida parece ter sido inócua, porque os recursos disponíveis para empréstimos permanecem muito reduzidos.
Avaliação conseguida pela Folha junto à equipe econômica traça o seguinte teorema:
1 - Com os compulsórios e os juros em níveis extremamente elevados, a economia cresceu 10,4% no primeiro trimestre deste ano.
2 - Sem esses freios, a economia estaria crescendo talvez a uns 15% anuais.
3 - A esse ritmo de crescimento, a inflação voltaria.
O BC, conforme apurou a Folha, acha que só o ajuste fiscal pode criar as condições para a redução dos compulsórios e, por extensão, da taxa de juros.
Por ajuste fiscal, o BC entende fundamentalmente reduzir as despesas do governo, até porque as receitas já aumentaram substancialmente de 1994 para 1995.

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