São Paulo, quinta-feira, 3 de agosto de 1995
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Ópera do Municipal tem gasto milionário

ELVIS CESAR BONASSA
DA REPORTAGEM LOCAL

Municipal gasta R$ 1 milhão em ópera
Cachês elevados e comissões pagas a intermediários multiplicaram os custos de ``O Barbeiro de Sevilha"
O custo da montagem da ópera ``O Barbeiro de Sevilha", de Rossini, que esteve em cartaz até ontem no Teatro Municipal de São Paulo, superou R$ 1 milhão.
O valor foi engordado pelos gastos com cachês elevados e comissões para as empresas que intermediaram a contratação de cantores líricos e a encenadora Angela Zabrsa, da Ópera de Viena.
Outra ópera montada recentemente no Brasil, ``Trittico", de Puccini, no Municipal do Rio, saiu por menos da metade do preço, R$ 420 mil.
Isso apesar de ``Trittico" contar com maior número de solistas (40, contra 15 no ``Barbeiro"), três cenários e três figurinos diferentes.
Os gastos, bancados pela Secretaria Municipal de Cultura, foram calculados pela Folha com base nos contratos publicados no ``Diário Oficial" (DO) do município.
Foram contratados cinco cantores estrangeiros, além da encenadora Zabrsa. Os outros artistas são brasileiros.
A contratação do peruano Ernesto Palácio para fazer o papel de Conde Almaviva em quatro apresentações saiu por R$ 94 mil. Desse total, o cachê líquido por apresentação foi de R$ 9 mil.
Outros dois estrangeiros que cantaram recentemente no Brasil, os italianos Giorgio Sebria e Alessandro Palliaga, receberam bem menos: apenas R$ 2 mil por apresentação de ``Trittico".
Considerando todos os gastos (passagem, hospedagem, taxas, comissão da empresa intermediadora), os dois custaram juntos, para cinco récitas, R$ 33 mil, segundo informação de Emilio Calil, diretor do Municipal do Rio.
O DO traz outros contratos em patamar semelhante: R$ 72,6 mil para a norte-americana Patrícia Spence interpretar Rosina, R$ 86,7 mil para o italiano Domenico Trimarchi fazer Bartolo, R$ 71 mil para o brasileiro Vladimir de Kanel, residente no exterior, pegar o papel de Basilio.
Lauro Machado, diretor do Municipal, argumenta que esses valores se referem aos gastos globais com os cantores: passagem, hospedagem, transporte, alimentação. Os valores foram pagos a empresas de representação.
A parte que cabe ao artista teria sido bem menor, segundo Machado. Palácio recebeu, de acordo com o diretor, R$ 9 mil por récita, totalizando R$ 36 mil.
No caso de Palácio, fora o cachê do artista, sobram ainda R$ 48 mil. Descontados preços de passagem aérea de primeira classe (R$ 5 mil) e hospedagem em um hotel cinco estrelas de São Paulo por dez dias (R$ 6 mil, considerando preços do Maksoud Plaza), sobrariam pelo menos outros R$ 37 mil.
Os mesmos cálculos aplicados aos outros casos produzem resultados semelhantes. O que significa que, além de pagar cachês elevados, o Municipal desembolsou comissões gordas para empresários.
A Folha localizou no DO 19 contratos com artistas estrangeiros e brasileiros. Dentre eles, 13 foram feitos através de empresas de representação.
Segundo a direção do Municipal, há problemas legais para contratar diretamente artistas estrangeiros e por isso a intermediação é indispensável.
Foram usados intermediários também para brasileiros que moram no exterior e no Rio de Janeiro, para facilitar os trâmites, segundo o Municipal.
O DO ainda não publicou o contrato do regente Isaac Karabtchevsky. O valor está em torno de R$ 60 mil. A soma dos contratos publicados e o cachê do maestro atinge R$ 1,01 milhão.

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