São Paulo, quinta-feira, 3 de agosto de 1995 |
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A alma das mulheres Balzac certa vez escreveu: ``...as mulheres vêem tudo ou não vêem nada, segundo as disposições de sua alma: o amor é a sua única luz". E as disposições da alma feminina são, a um só tempo, insondáveis e previsíveis. A seção ``Tese da semana" publicada anteontem mostra o trabalho da antropóloga Denise Martin, segundo o qual uma das principais dificuldades do trabalho de prevenção contra a Aids com mulheres é o fato de elas raramente questionarem seus parceiros. A partir de entrevistas com mulheres portadoras do vírus HIV ou já com Aids, a pesquisadora concluiu que elas não se perguntam como ou por que seus parceiros se contaminaram. Nenhuma exigiu o uso da camisinha. O mais curioso é que, mesmo contaminadas, elas não culpam o homem com quem se relacionaram. Para elas, seus parceiros não têm culpa alguma; só ``outros" homens é que contaminariam alguém por irresponsabilidade. A tese sugere uma reflexão sobre as diferenças no comportamento sexual de homens e mulheres, sejam elas definidas por razões naturais, sociais ou históricas. Para o homem o ato sexual é frequentemente um fim em si mesmo, uma descarga de libido, um ato instintivo, quase que mecânico. Já com as mulheres as coisas não funcionam bem assim. A sexualidade feminina é muito mais sentimental. Requer envolvimento: amor. A identificação entre as mulheres e seus parceiros tende a ser tão grande e forte a ponto de elas nem mesmo os culparem por lhes terem transmitido uma doença fatal. Nesse sentido a sexualidade feminina é muito mais humana que a masculina. E o amor é certamente uma invenção feminina. Os versos que Shakespeare colocou na boca de uma mulher são elucidativos: ``Não tenho senão uma razão feminina / Acho que ele é assim, porque acho que ele é assim". Eis a alma das mulheres. Texto Anterior: Mina, Saara e lógica Próximo Texto: A economia e suas histórias Índice |
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