São Paulo, quinta-feira, 3 de agosto de 1995
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A economia e suas histórias

CLÓVIS ROSSI

Se há um número da economia sobre o qual parece haver consenso é o que se refere ao elevado atraso nos pagamentos devidos, a famosa palavrinha inadimplência.
O problema é que o consenso não chegou ao Banco Central. Sua diretoria tem dúvidas a respeito do verdadeiro quadro de inadimplência no país, a ponto de estar conversando com agentes econômicos para tentar entender melhor o que está ocorrendo.
Não é difícil para o BC saber direito das coisas. Se se quiser pautar pelo ângulo puramente opinativo, basta ler Delfim Netto, em sua coluna de ontem nesta Folha.
Talvez resuma mal, mas a ênfase que o deputado expõe é no efeito diferenciado que a política monetária (leia-se, os juros ``escorchantes") provoca em cada setor da economia ou conforme o tamanho da empresa.
Já se o BC preferir números frios, seus escritórios regionais podem levantá-los em meia hora, com uma dúzia de telefonemas, por exemplo, às Associações Comerciais.
O que o Banco Central vai descobrir não é, no fundo, muito diferente do que seu diretor da Área Externa, Gustavo Franco, disse ontem à Folha: ``O quadro econômico, quando olhado de perto, tem de fato histórias dramáticas e tem também gente que está indo muito bem".
Como seria ridículo o governo se preocupar com quem está indo muito bem (embora no Brasil ridículos desse tipo costumem ocorrer com anormal frequência), seria bom que se preocupasse com as ``histórias dramáticas".
Vai fazê-lo? Não se depender exclusivamente do Banco Central. Aí, o pessoal segue o manual básico: como sabe que a perna fiscal é fraca (o equilíbrio está sendo mantido artificialmente), agarra-se na política monetária, fortemente restritiva.
Ou muito me engano ou há aí um dado político relevante: a perna fiscal é responsabilidade de José Serra (Planejamento), ao passo que a política monetária cabe à Fazenda e ao BC. Ou se entendem ou, logo, a economia abrigará mais histórias dramáticas do que de sucesso.

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