São Paulo, sexta-feira, 4 de agosto de 1995
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Governo negocia participação nos lucros

SHIRLEY EMERICK
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo federal vai oferecer apoio de sua bancada para a aprovação da MP (medida provisória) que determina a participação dos trabalhadores nos lucros das empresas como forma de proteger os salários mais baixos.
A MP que desindexou a economia brasileira, reeditada nesta semana, veta a vinculação de salários com quaisquer índices.
Para várias lideranças do Congresso, inclusive o seu presidente José Sarney (PMDB-AP), isso significa que classes menos organizadas vão perder dinheiro em caso de inflação.
A resistência dos parlamentares à livre negociação total dos salários forçou a equipe econômica a encontrar alternativas que garantam algum tipo de defesa para as categorias menos organizadas.
A idéia, segundo a Folha apurou, é colocar o texto em votação para auxiliar as negociações com os partidos que querem estabelecer correção automática pela inflação para os salários mais baixos como forma de proteção.
A alteração de alguns pontos na MP que acabou com a correção automática dos salários pela inflação também não está descartada, mas o governo vai manter o fim dos reajustes baseados em índice de preços.
A equipe econômica não admite a fixação de índices, mas aceita acrescentar ao texto outras sugestões, como a inclusão de benefícios sociais ao trabalhador.
Ontem, o ministro Paulo Paiva (Trabalho) se encontrou com líderes do governo no Congresso e na Câmara e com o presidente da Comissão Mista que vai analisar a medida provisória.
Depois, em São Paulo, ele afirmou que o governo está preparando um ``projeto de conversão sobre participação nos lucros e resultados" para embasar a negociação de uma nova MP específica para a questão da participação.
O projeto, segundo ele, será ``a consolidação de uma prática que já está ocorrendo".
Segundo Paiva, a MP está no Congresso para ser discutida sem, no entanto, descaracterizar o ponto central, que é a livre negociação.
O líder do governo no Congresso, deputado Germano Rigotto (PMDB-RS), disse que a discussão sobre a proteção dos salários faz parte ainda de uma cultura inflacionária. ``Se estivéssemos em momento de inflação alta, acho que teria lógica a preocupação de proteger salários. O cenário não é este", afirmou.
Ele disse que a votação da MP deve acontecer em setembro. Neste tempo, prevê, algumas categorias fortes, como bancários e metalúrgicos, vão testar as novas medidas, o que vai influenciar a decisão do Congresso.
``Temos uma economia estabilizada e os trabalhadores têm condições de negociar reposição de inflação e até mesmo aumentos reais."
O deputado Paulo Paim (PT-RS), ex-presidente da Comissão de Trabalho da Câmara, disse que a oposição vai tentar forçar a votação da MP no plenário do Congresso ainda neste mês.
"O governo voltou desgastado do recesso do Congresso porque as bases políticas estão reclamando da queda do poder aquisitivo. Queremos a incorporação da inflação nos salários do mesmo jeito que está garantido para os contratos das empreiteiras."

Colaborou a Reportagem Local

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