São Paulo, sexta-feira, 4 de agosto de 1995
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Ambientalismo autofágico

WERNER E. ZULAUF

O Brasil é, de longe, o país mais bem estruturado em termos de legislação e instituições de governo para defender a ecologia na América Latina.
O Sisnama (Sistema Nacional de Meio Ambiente) prevê ações integradas vertical e horizontalmente, isto é, ações comuns e concorrentes entre órgãos federais, estaduais e municipais (integração vertical), e ações de cooperação e parcerias com os demais órgãos setoriais de mesmo nível, com as mais diversas formas de organização social não-governamental (integração horizontal).
A concepção não poderia ser mais abrangente e racional. A teia de aranha montada não deveria deixar escapar os elementos nocivos da convivência humana, no cada vez mais escasso espaço sobre o planeta: os predadores do meio ambiente. É pena que não seja bem assim.
Entre os ecologistas ou autoridades ambientais nos diversos níveis da hierarquia oficial, pratica-se, com intensidade inimaginável em qualquer outro setor, intrigante e nefasta autofagia. Gastam-se escassos recursos humanos, precioso tempo e muito papel em infindáveis questionamentos jurídicos, técnicos e filosóficos em relação às iniciativas adotadas.
Há indivíduos nesse setor que nunca produziram nada de concreto, mantendo notoriedade à custa de críticas e contestações de ações daqueles que têm propostas e tomam iniciativas.
Outros há, excelentes técnicos, que não conseguem finalizar seus projetos; entretanto não permitem que, em outro espaço governamental, apliquem-se seus trabalhos, como se a tecnologia desenvolvida com recursos do governo fosse propriedade particular.
Nesse ambiente, fragilizado pela intriga, pela cizânia e outros vírus comportamentais, abrem-se flancos para moléstias oportunistas, desde apetites econômicos não satisfeitos até a onipresente esquerda fundamentalista xiita, aquela que só viceja no quanto pior melhor.
A Prefeitura de São Paulo criou seu Sistema Municipal de Meio Ambiente e tem tomado as iniciativas necessárias para atingir os objetivos estabelecidos pela alta administração municipal, calcadas em demandas de prioridade gritante.
A trajetória das autoridades que procuram atuar proativamente, colimando orçamentos, dispositivos legais e procedimentos técnicos na direção do confronto com os problemas ambientais que aguardam solução, tem que atentar menos aos predadores, alvos da ação, e mais àqueles que deveriam estar atuando ao seu lado.
Pode-se dizer que é assim mesmo, que isso faz parte das fraquezas do ser humano. Tudo bem, mas haja fraqueza nesse biodiverso ecossistema da dita comunidade ambientalista...

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